Bida fugiu de carro, afirma fazendeiro. Ele nega envolvimento no crime

O fazendeiro Délio Fernandes negou hoje, em depoimento à Polícia Civil, envolvimento no assassinato da missionária Dorothy Stang, morta no dia 12 de fevereiro, em Anapu, PA. "Sou católico apostólico romano e praticante", disse ele ao delegado Waldir Freire, que investiga o crime.

No entanto, Fernandes confirmou que na madrugada de segunda-feira após a morte da religiosa o vizinho e fazendeiro Vitalmiro Matos de Moura, o Bida, esteve em sua propriedade para dar um telefonena. Bida é acusado de ser o mandante do crime. Fernandes disse que não cedeu avião ou pista de pouso para Bida fugir de avião da região, como afirmaram ontem (01) os acusados da morte da religiosa, Rayfran Sales e Clodoaldo Batista, ambos presos. Mas informou que Bida fugiu de carro.

Não foi a primeira vez que Délio Fernandes foi prestar depoimento à polícia em Altamira. Ele já esteve preso em fevereiro de 2002 por suposta participação num esquema de desvio de recursos da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). À época, Fernandes foi acusado pelo Ministério Público Federal de integrar uma "organização criminosa chefiada por Jader Barbalho", então senador e hoje deputado federal.

"Tanto a acusação de envolvimento na morte de Dorothy quanto a de desviar dinheiro da Sudam não procedem", afirmou hoje o fazendeiro. "Conheço o senador Jader Barbalho como todos conhecem, mas não tenho contato com ele." O fazendeiro disse em entrevista o que relatou à polícia.

Ele admitiu conhecer Bida "há algum tempo" e que nunca viu o capataz Amair Feijoli da Cunha, o Tato, acusado de ter intermediado a contratação dos pistoleiros que mataram a missionária. Fernandes também negou conhecer Rayfran Sales, o Fogoió, criminosos confesso, e Clodoaldo Batista. O fazendeiro contou que a pista de sua propriedade está desativada desde o carnaval, quando uma aeronave usada para pôr agrotóxicos na lavoura pousou no local.

Fernandes disse que Bida terida fugido por volta de 10 horas do dia 14, de carro. Fernandes confirmou que encontrou em uma estrada dentro de sua propriedade uma caminhonete usada por Bida na fuga. "Nunca tive problemas com a irmã, meus problemas sempre foram com o Incra, que quis cancelar um título de propriedade que eu tinha", afirmou. "Sempre fui amigo do pessoal do PT, e até dava carona para a Dorothy."

Sigilo

Fernandes colocou à disposição da polícia os sigilos bancário e telefônico. Policiais investigam agora para quem Bida telefonou quando esteve na propriedade do vizinho. Fernandes contou que estava em Altamira quando seus funcionários foram procurados por Bida por volta de 1 hora do dia 14. "Costumo emprestar meu telefone para todas as pessoas, minha fazenda é um posto telefônico", disse.

A uma pergunta sobre o suposto consórcio de fazendeiros, madeireiros e políticos que iriam ratear as custas com advogados dos pistoleiros, Fernandes respondeu que é "leviano" ligá-lo ao caso. "Admiro o trabalho dela (Dorothy) e acho que não têm fazendeiros, madeireiros e prefeitos envolvidos nessa história."

Chave

O delegado Waldir Freire disse que a hipótese de consórcio, levantada por Rayfran e Clodoaldo, só poderá ser confirmada ou descartada com a prisão de Bida, que continua foragido. "Ele (Bida) é a chave disso tudo", avaliou Freire. A polícia pretende ouvir outros fazendeiros, especialmente Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, também citado nos depoimentos de pessoas.

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