BC não aumentará reservas para manter juros em alta, diz Belluzzo

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), avaliou hoje que o governo não avançará muito no aumento de reservas cambiais, pois a ação poderia implicar redução dos juros. "A compra de dólares implica elevar o volume de reais em circulação na economia. Como esse processo provoca o relaxamento da política monetária, iria contra o objetivo do Banco Central, que é manter os juros em alta para levar a inflação à apertada meta de 5,1% neste ano", comentou .

Para Belluzzo, é mais provável que o BC vá comprando dólares apenas para administrar o patamar de câmbio a fim de não permitir que a cotação do real frente à moeda norte-americana caia para níveis muito baixos. "Mas a aquisição será pequena, de apenas alguns bilhões no máximo para evitar que o câmbio fique muito abaixo de R$ 2,70", afirmou.

Na avaliação do professor, é enganoso pensar que o atual volume de reservas, US$ 52,9 bilhões, é confortável. "Desse volume, só uns US$ 24 bilhões são recursos líquidos, pois o restante são basicamente recursos vindos do FMI, que, no fundo, não é dinheiro do País ", comentou. "O Brasil precisaria ter entre US$ 70 bilhões e US$ 80 bilhões de reservas líquidas, o que seria oportuno para fazer frente a eventuais variações bruscas vindas do mercado financeiro internacional."

Algumas dessas fortes oscilações poderiam vir de potentes hedge funds internacionais, caso o Banco Central dos Estados Unidos, o Fed, decida elevar os juros para conter a subida da inflação. Segundo ele, tais fundos estão comprados em títulos de países emergentes que possuem moedas bem valorizadas em relação ao dólar.

Para Belluzzo, se os juros norte-americanos subirem, tais investidores de curto prazo migrarão em massa para os papéis emitidos em Washington, o que pode provocar movimentos fortes de saída de recursos do País. "Então, poderíamos ser atingidos por problemas cambiais sérios, especialmente porque nosso nível de reservas é baixo para absorver tais impactos", afirmou. "Se o patamar de reservas estivesse em padrões asiáticos, teríamos melhor condições para enfrentar essas eventuais dificuldades".

De acordo com Roberto Gianetti da Fonseca, diretor do departamento de comércio exterior da Fiesp, a China tem US$ 400 bilhões de reservas, a Coréia do Sul US$ 100 bilhões e o México US$ 70 bilhões.

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