BC eleva taxa Selic para 21% ao ano e surpreende mercado

No primeiro dia útil depois de baixar um pacote de medidas para forçar a baixa do dólar, o Banco Central (BC) surpreendeu hoje (14) o mercado e decidiu, em reunião extraordinária do Comitê de Política Monetária (Copom), elevar a taxa básica de juros da economia de 18% para 21% ao ano  sem indicar um viés de alta ou de queda.

Desde que assumiu o comando do BC, em março de 1999, o presidente da instituição, Armínio Fraga, nunca havia convocado extraordinariamente o Copom. Apenas nas crises da Ásia, em outubro de 1997, e da Rússia, em setembro de 1998, o BC havia usado essa prerrogativa para decidir pelo aumento das taxas de juros.

A justificativa da medida foi dada em nota curta: “O recente aumento dos preços e a piora das expectativas de inflação decorrentes, principalmente, da depreciação acentuada do câmbio levaram o Copom, em reunião extraordinária, a fixar a taxa Selic em 21% ao ano”. Com a decisão, a taxa Selic volta ao nível fixado na reunião de 23 de junho de 1999.

A medida pegou os investidores de surpresa, mas não impediu que o dólar fechasse em alta de 1,05%, cotado a R$ 3,86. As projeções de juros, por sua vez, explodiram. A taxa dos contratos de juros para janeiro, os mais negociados, subiu de 21 6% para 23,28% ao ano, atingindo o limite de oscilação permitido pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). A decisão do BC causou controvérsia entre analistas e foi recebida com ceticismo por operadores do mercado.

Por telefone

A convocação extraordinária de Fraga, que estava no Rio, foi feita no fim da manhã, logo após a cotação da moeda americana ter aberto em alta no mercado. O chamado aparentemente apanhou de surpresa alguns dos integrantes do Copom. O diretor de Assuntos Internacionais, Beny Parnes, estava no Rio, o de Política Monetária, Luiz Fernando Figueiredo, encontrava-se em trânsito para Brasília e o de Política Econômica, Ilan Goldfajn, em Madri.

Diferentemente das reuniões ordinárias, os chefes de departamento do BC não participaram das discussões, que foram feitas por telefone. Ao final de aproximadamente uma hora de conversa, a decisão foi tomada por unanimidade. O aumento das taxas de juros ocorreu uma semana antes da reunião mensal ordinária do Copom, marcada para 22 e 23 de outubro. A reunião ordinária está mantida.

O aumento das taxas de juros deverá fazer crescer já em outubro a dívida em títulos do governo, que em agosto estava em R$ 622,794 bilhões. O jogo pesado do BC para derrubar a cotação do dólar, que resiste em nível elevado, e colocar a inflação de novo dentro da meta tem um marco esta semana. Na quarta-feira, um dia antes do vencimento de títulos da dívida de aproximadamente US$ 3,6 bilhões, entram em vigor os novos limites de aplicações em moeda estrangeira. Os bancos só poderão ter 30% de seu patrimônio aplicado em operações vinculadas ao dólar. Até sexta-feira, esse limite era de 60%.

Além disso, toda a exposição em câmbio terá de ser bancada com capital próprio. Na segunda-feira (dia 21), é a vez de entrar em vigor a nova alíquota do compulsório, que subiu 5 pontos porcentuais nos depósitos à vista, a prazo e na poupança. Com as novas alíquotas, o BC deverá retirar cerca de R$ 14,2 bilhões de recursos da economia.

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