Autonomia do BC

A autonomia do Banco Central e as constantes elevações que promove na taxa de juros são objeto de discussões só aqui dentro do Brasil. Em reunião com importantes investidores em Zurique, o presidente do BC, Henrique Meirelles, foi indagado com insistência sobre a matéria.

Sua resposta a respeito da discutida autonomia foi de que depende de decisões políticas. Sobre as constantes elevações nas taxas de juros, Meirelles criticou aqueles que menosprezam os riscos inflacionários e afirmou que os juros cairão à medida que as pressões inflacionárias cederem.

As expectativas de alta da inflação servem de argumento para aumentos dos juros, embora seja forte a corrente que sustenta que a nossa inflação não é de excesso de demanda. E se não é, não justifica os juros altos. O que uma corrente de economistas argumenta é que a inflação brasileira é fruto de uma demanda diminuta, reduzida pelo desemprego e pela baixa massa salarial. Como a produção e a comercialização têm custos irredutíveis, cobram-se preços elevados que recaem sobre um mercado retraído por falta de poder de compra.

Teorias à parte, o fato é que o Banco Central, aqui sem autonomia, está elevando os juros sob o argumento de que precisa segurar a inflação. E tal é política do governo, pois o BC não é autônomo.

Explicação mais compreensível é a que justifica as elevações com o objetivo de atrair capitais, competindo na captação de recursos que têm destino às vezes mais seguros a eleger. Paga-se alto para compensar os riscos e garantir o ingresso de dinheiro no País, ou a rolagem da nossa gigantesca dívida.

A inexistência de autonomia do BC, que Meirelles confessa ser matéria política, permite aos políticos manter uma permanente cunha na instituição. O dinheiro, que é a tradução do trabalho de um povo e de seu crédito, deixa de ser independente, desacoplando-se da realidade para passar a depender da vontade do governo.

O governo, via BC, manipula o dinheiro do País. E se é mandado pelos políticos, pouco importam os fatos. Importa sim a vontade dos gestores da coisa pública. Já tivemos amargas experiências com essa politização do Banco Central. Foi o caso da desvalorização retardada pelo governo Fernando Henrique Cardoso, o real mantido no mesmo patamar do dólar, quando era evidente que estava desvalorizado. Quando os políticos caíram na real, o País já estava à beira do abismo. Exemplo mais eloqüente é o da Argentina, que manteve o peso em paridade artificial com o dólar por uma década. E caiu no buraco. Parece evidente que há que se dar autonomia ao Banco Central, mesmo porque os meios de pagamento obedecem a regras de mercado e não à vontade dos políticos.

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