Uma corrida, uma saudade (Parte II)

Além de todo esse equipamento, o motor Ford da carreteira de Angelo Cunha (natural de São Francisco de Paula/RS e morador de Laranjeiras do Sul/PR), com virabrequim, bielas e pistões do motor Mercury,  atingia taxa de compressão entre 9,5 e 10×1, levando-a a velocidade superior a 200km/h. José Luiz Barboza recorda que o chefe da equipe Simca nessa corrida Curitiba/Apucarana/Curitiba pela Rodovia do Café era nada menos que um dos mais famosos pilotos brasileiros de todos os tempos: Chico Landi. Por esta equipe participaram dois Simca Abarth, carros de ponta com motor de quatro cilindros traseiro trazidos da Europa e um Simca protótipo construído no Brasil.

“A largada de dois carros cada vez – relata Barboza – foi na ponte do rio Barigui, quilometro zero da rodovia, em Curitiba. No trajeto de ida, Angelo foi obrigado a segurar muito a carreteira, uma vez que estava chovendo, a poeira sobre o asfalto nas proximidades de estradas laterais de chão havia virado lama e além disso em alta velocidade o vento levantava os limpadores de para-brisa cujos eixos eram fixados na parte superior do carro (o que foi modificado posteriormente), dificultando a visão. Em consequência disso, cerca de 10 a 15 carros nos ultrapassaram. No entanto, na volta a história foi diferente, pois, a chuva cessou e a pista secou, possibilitando que a carreteira desse tudo o que podia dar. Largamos atrasados mas fomos ultrapassando um a um os carros de todos os pilotos que estavam à nossa frente, não dando tempo de alcançar apenas um dos Simca Abarth, que era pilotado por Jaime Silva e que foi o vencedor da prova. O outro Simca Abarth já havia quebrado na ida. Chegamos a derrapar numa curva, saindo da pista e entrando no acostamento de brita, mas, o carro nada sofreu de grave e voltamos a competir.” De acordo com Barboza, a média horária da carreteira na volta foi de 216 quilometros/hora, terminando a dupla Angelo Cunha/José Luiz Barboza em segundo lugar na geral e em primeiro na categoria Força Livre. “Nossa carreteira fez sucesso, batendo todas as outras. A partir daí o movimento de carros da minha oficina triplicou, fazendo com que tivesse que agendar o atendimento dos fregueses interessados em melhorar a mecânica dos seus carros.” José Luiz acrescenta que gostou dessa primeira experiência como co-piloto de carreteira e que não sentiu medo. Isto, apesar de que dispunha à sua frente, no painel do carro, daquele “famoso” dispositivo de apoio, o conhecido “PQP”, além de cinto de segurança e o protetor “Santo Antonio”. Hoje, tranquilo em sua escrivaninha, tendo à frente considerável biblioteca sobre motores, esse preparador de carros de corrida continua na ativa dirigindo sua oficina mecânica da Rua Iapó, em Curitiba. Na foto, o Simca Abarth número 26 de Jaime Silva, o vencedor.

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