Articulação sem PT

A tradição republicana de confiar aos ministros da Justiça a nobilíssima tarefa de conduzir a articulação política dos governos, regra seguida com apuro também pelos governadores estaduais, que escolhiam a dedo o titular da Secretaria da Justiça, desfigurou-se por completo nos últimos anos, quando o referido servidor – pelo menos no plano federal – teve o tempo absorvido pela famigerada ocorrência de impasses jurídicos no âmago da administração.

Coordenar a ação da Polícia Federal, não apenas no combate ao crime organizado (lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e contrabando, os principais), mas em igual medida à corrupção desmoralizante em muitos setores da gestão pública, tornou-se quase a principal demanda do Ministério da Justiça. A avaliação decorre do desempenho do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, aliás, em coincidência incômoda para o presidente Lula, um dos mais renomados advogados criminalistas do País.

Assim sendo, a coordenação política deixou de ser ocupação natural do ministro da Justiça e, no mandato recém-findo, o assunto foi transferido para o Ministério da Articulação Institucional, inicialmente entregue ao deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), mais tarde presidente da Câmara. Na seqüência, a função foi assumida pelo então ministro da Educação, Tarso Genro.

Na reforma ministerial recente, Genro foi deslocado para a Justiça e Walfrido Mares Guia, brindado com autêntico up grade, saltou do Ministério do Turismo para a Articulação Institucional, afinal, um dos setores mais cobiçados no arcabouço governamental.

Apesar da estranheza causada pela definição de Lula nos arraiais de seu partido, a articulação com o Congresso foi entregue a um político oriundo do PTB, no qual o presidente enxergou as qualidades essenciais para o diálogo produtivo com os partidos da base e, sobretudo, com a oposição.

Uma evidência a mais no esvaziamento do PT deu-se com a entrega da liderança do governo na Câmara e no Senado ao deputado José Múcio (PTB-RJ) e ao senador Romero Jucá (PMDB-RR). Mesmo a honorífica liderança no Congresso foi dada, como prêmio de consolação, à senadora Roseana Sarney (PMDB-MA). Ou seja, Lula se entende melhor com antigos adversários…

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