Articulação envergonhada

O governo Lula viu-se forçado a colocar mais uma bandagem na composição ministerial, entregando o posto de Walfrido Mares Guia, na Articulação Institucional, ao deputado José Múcio (PTB-PE), até então líder governista na Câmara dos Deputados.

O constrangimento se agrava no momento em que o PTB avisa que deixará a base governista no Senado, em represália à substituição de Mozarildo Cavalcanti na Comissão de Ética, que votaria pela aprovação do parecer pela cassação do mandato do senador Renan Calheiros, contra a orientação passada pela líder Ideli Salvatti (PT-SC).

Walfrido se afastou do cargo por ter sido denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Antônio Fernandes de Souza, pela co-autoria dos crimes de lavagem de dinheiro e caixa 2 na campanha do atual senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), também denunciado, ao governo de Minas, em 1998.

Segundo as apurações da Polícia Federal em conjunto com o Ministério Público Federal, embora Walfrido garanta que jamais foi ouvido por nenhuma dessas instâncias, e Azeredo sustente que a acusação está baseada num ?embuste?, o publicitário Marcos Valério de Souza, desde então, capitaneava o esquema de captação de fundos para a campanha de Azeredo.

Indícios da participação do ex-ministro foram insinuados durante a CPI dos Correios e, posteriormente, o próprio Walfrido admitiu que seu único envolvimento em assuntos financeiros da campanha foi o empréstimo de R$ 511 mil que fez ao amigo Eduardo Azeredo, de quem era candidato a vice-governador.

Ocorre que a quantia, que ainda não foi paga, também não foi declarada na prestação de contas da campanha de Azeredo, levando a PF a suspeitar de lavagem de dinheiro e caixa 2.

Ao anunciar o afastamento do colaborador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em nota oficial, reiterou sua confiança na honestidade do companheiro que há cinco anos presta serviços ao governo, primeiro como ministro do Turismo e, na atual administração, na articulação política com os membros do Congresso Nacional. ?Walfrido vai provar sua inocência?, arriscou a comunicação oficial do Planalto.

É mais uma derrapada moral para o governo Lula, que aos poucos viu se esfumar por completo a auréola de campeão absoluto da ética e transparência na política, a dispensa de mais um quadro da alta administração, como já ocorrera com os ex-ministros José Dirceu e Silas Rondeau.

Tendo em vista a gravidade dos fatos e a posição hierárquica do acusado, a percepção disseminada é que o procurador-geral jamais seria leviano a ponto de oferecer denúncia com base em subterfúgios ou embustes. A República está apreensiva, mas vai aguardar o pronunciamento da Justiça.

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