Armadilha cruel

Chegou a vez de o Banco Mundial (Bird) alinhar-se entre as maiores instituições econômicas e políticas do mundo para apontar a anormalidade gravíssima existente entre as classes sociais no Brasil. Segundo relataram esta semana os meios de comunicação, há no País uma ?inequality trap?, que em bom português traduz-se por armadilha da desigualdade.

Quando uma instituição multilateral como o Bird, com participação econômica em projetos de desenvolvimento em quase todas as regiões do planeta, publica uma conclusão desse jaez, não o faz por irresponsabilidade ou simples desejo de desprestigiar quaisquer governantes.

Ao contrário, trata de assunto comezinho à sua atividade programática, qual seja a de viabilizar contrapartidas internacionais para financiar projetos nos setores da infra-estrutura e desenvolvimento humano, em grande medida, para beneficiar países em crescimento.

Portanto, é uma pecha incômoda com a qual os brasileiros são chamados a conviver, a de serem concidadãos do País campeão da desigualdade social na América Latina. Diz o estudo do Bird que o Brasil consegue superar, nesse item, quatro países africanos (Suazilândia, República Centro-Africana, Botswana e Namíbia).

Perdemos nessa classificação, que tem nos dois primeiros lugares da lista de 129 países pesquisados o Japão e a Índia, acima do Reino Unido e Estados Unidos, para Peru, Uruguai, China, México, Argentina, Chile, Paraguai e Bolívia. Dizia-se há alguns anos, com acentuada ponta de desprezo, que o Brasil seria a Argentina amanhã. Isso para caracterizar o estado lastimável da situação socioeconômica vivida no país vizinho.

Mais uma profecia frustrada dos magos da economia, hoje decerto envergonhados de terem previsto para o Brasil o descalabro que julgavam enxergar na Argentina, cujo desempenho nos causa inveja.

A armadilha da desigualdade está ancorada na presença perpétua das elites no poder, mediante a criação de mecanismos que mantêm o quadro inalterado por gerações. Mecanismos que perpassam toda a gama de instituições que dividem entre si os poderes da República.

A quintessência do patrimonialismo nativo, para lembrar exemplo típico, reside no fato de os mais ricos estudarem nos melhores colégios particulares e depois entrarem nas universidades públicas, valendo-se dum subsídio claramente negado aos mais pobres.

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