Aproximadamente 5 milhões de carros passaram por recall em dez anos

Quase 5 milhões de carros vendidos no Brasil na última década passaram por recall, convocação feita pelas empresas para consertar defeito de fabricação normalmente envolvendo item que coloca em risco a segurança. Em tese, de cada 10 carros vendidos de 1996 até agora, três voltaram para reparos. Alguns modelos foram chamados mais de uma vez. Os defeitos mais freqüentes são nos freios (20%), na direção (14,8%) e no sistema de combustível (12,6%).

Este ano já foram chamados 202 mil carros. Em 2005, foram 265,5 mil. A montadora com maior número de convocações é a General Motors: 2,2 milhões de veículos. Em apenas um recall foram 1,3 milhão de Corsas com defeito no cinto de segurança. Foi a maior convocação no País. A GM foi acusada de ter demorado a fazer o reparo e duas pessoas morreram em acidentes em que os cintos se soltaram.

A Volkswagen é vice-campeã, com 927,5 mil chamadas, seguida de Fiat, com 784,6 mil, e Ford, com 589,9 mil. Corsa, S-10 e Fiesta são os modelos que mais passaram por recall. Tiveram de voltar às lojas nove vezes, quase uma vez ao ano, segundo o site estradas.com.br, que mantém banco de dados sobre recalls no Brasil.

"O recall deve ser encarado como algo bom, um respeito ao consumidor", avalia Claudio Péret, coordenador de assuntos jurídicos do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça. Nem sempre o chamamento é iniciativa da empresa. "Recomendamos à BMW que faça recall para corrigir o dispositivo do freio de motos importadas, mas a empresa apresentou defesa e reluta em aceitar.

Os casos do cinto de segurança da GM, e logo em seguida da Fiat, que envolveu 320 mil modelos Palio, também não foram espontâneos diz Péret. "Houve instauração de processo e as empresas fizeram recall com atraso." Ambas foram multadas. A Fiat pagou. A GM está recorrendo até hoje.

Para o diretor de pós-venda da Volkswagen, Leonardo Soloaga, "nenhuma empresa gosta de recall, mas entende a medida como necessidade e responsabilidade de zelar pela segurança do consumidor". GM e Ford não quiseram comentar o assunto. Com a Fiat, as quatro montadoras respondem por 80% do mercado e 90% dos veículos que voltaram às lojas.

Analistas acreditam que o aumento da velocidade da produção e a redução do prazo de desenvolvimento de novos carros sacrificam a qualidade e são causas de várias convocações. Rodolfo Alberto Rizzotto, responsável pelo site estradas, contabiliza em uma década 4,894 milhões de veículos envolvidos em recall, o equivalente a quase 30% das vendas no período. Há casos em que os números não foram divulgados.

O DPDC, que passou a acompanhar recalls em 2001, tem registros de 2,8 milhões de carros que saíram da fábrica com defeito, alguns dois meses após o lançamento, caso do Celta. "No Brasil, o recall depende, na maioria das vezes, da iniciativa das montadoras", diz Rizzotto. Nos EUA, um órgão governamental faz testes, recolhe dados do mercado, constata falhas e obriga o fabricante a realizar o chamamento.

Recall branco

A procuradora da República no Estado de São Paulo, Cristina Marelim Vianna, recomenda ao DPDC que obrigue montadoras a comunicar aos órgãos de defesa também o que chamam de recall branco. São ações normalmente passadas pelas montadoras aos concessionários, identificadas como campanha de serviço, operação de campo, boletim de informação técnica e ação de oficina. O defeito é constatado, mas o reparo só ocorre se o carro for para revisão. "É inadequado chamar essas ações de recall branco, pois não envolvem itens de segurança e normalmente são feitas para atualizar algum componente", diz Carlos Henrique Ferreira, assessor técnico da Fiat.

As campanhas de convocação precisam ser mais eficazes e mais claras. Recall da Nissan publicado há duas semanas para 11.930 donos de picapes Frontier e XTerra informa que pode "haver desgaste prematuro da bandeja inferior da suspensão dianteira, ocasionando ruído incomum, vibração da direção e, ainda que remotamente em caso de persistência no uso, rompimento da bandeja inferior comprometendo a condução.

"É um texto frívolo", diz Fernando Pedrosa, da Câmara Temática de Educação para o Trânsito e Cidadania, ligada ao Conselho Nacional de Trânsito. Seria mais fácil dizer: o motorista pode perder a direção.

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