Aprender sempre

Educar não se reduz mais a preparar jovens para a vida adulta. Hoje, educar é cada vez mais capacitar continuamente as pessoas para que possam enfrentar os desafios de uma realidade em constante – e rápida – transformação.

Além de prolongar o tempo dos estudos, a educação contemporânea não pode mais ficar restrita aos espaços formais como a escola e a universidade. Deve englobar todos os espaços sociais onde pessoas vivam situações que demandem conhecimentos, habilidades e atitudes novas.

O conceito de lifelong learning (aprendizagem durante a vida toda) implica assim numa ampliação temporal e espacial das formas clássicas da educação – e estimula uma revisão das idéias que deram sustentação, por tanto tempo, àquelas formas e modelos.

Idéias importantes, que foram inspiradoras quando lançadas, muitas vezes transformam-se em frases feitas, em clichês que perdem sua força inicial e passam a ser reproduzidos sem reflexão e consumidos como frutas da estação.

?Aprender a aprender?, por exemplo, é uma expressão presente na maioria absoluta dos projetos pedagógicos, até mesmo naqueles em que as atividades de ensino continuam sendo as velhas práticas centradas na transmissão de conteúdos e na figura todo-poderosa do professor.

É preciso recuperar os significados mais profundos de expressões como ?aprender a aprender?, ?construção do conhecimento?, ?aprendizagem colaborativa?, que foram banalizadas no processo consumista ávido de modelos acabados e idéias prête-a-porter. Temos de superar o discurso acadêmico que promove modismos conceituais sem transformar verdadeiramente suas práticas já fossilizadas.

Afinal de contas, trata-se exatamente de implantar formas educacionais que sigam uma nova orientação; que permitam, facilitem e incentivem curiosidade, a descoberta, a interação, a colaboração e que desloquem o foco antes colocado nos conteúdos para as ações, os desafios, a solução de problemas e a criatividade.

Assim, a educação permanente é antes de tudo um movimento para a superação dos velhos modelos, que encontraram na pedagogia universitária e no espaço educacional formal um terreno propício para se enraizarem.

Esta educação contínua demanda formas abertas, livres, participativas e flexíveis. Como disse o professor Pedro Demo, ?a inteligência é menos a capacidade de lidar com a certeza, do que saber sobreviver no mundo incerto?. A dinamicidade do mundo conflita com a rigidez da educação formal e exige mudanças profundas nos modos de ensinar e de aprender.

Aqui cabe destacar o papel das novas tecnologias de informação e comunicação, como o computador pessoal, a internet e o celular, cuja difusão vem exercendo uma saudável – e crescente – pressão sobre os modelos educacionais e as práticas didáticas autoritárias e instrucionistas.

Se quisermos de fato ?educar para a vida? e viabilizar a educação aberta e permanente de que tanto necessitamos, teremos de encontrar maneiras de tornar reais as promessas tecnológicas e de voltar nosso olhar para os novos espaços nos quais a aprendizagem ocorre e ocorrerá.

Antonio Simão Neto (simao@interfacesonlime.com.br) é do Instituto Interfaces.

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