Aposta no Brasil

O mercado mais especula que esperneia nessa nova enxurrada que faz parte das intempéries que estamos sofrendo na economia e finanças nacionais. O dólar bateu novo recorde. Ruim para o Brasil e ótimo para os especuladores.

A turbulência tem, é óbvio, um componente político-eleitoral, com a possível, se não até provável, vitória de Lula. Mas a esquerda extremada, que é a mais temida, além de reduzida no Brasil e no mundo, parece que já começa a falar no vazio. Lula, além de fazer aliança com um partido ideologicamente de direita, o PL, tem prometido a manutenção dos compromissos do País perante seus credores e assegurado que manterá os fundamentos essenciais para que isso seja viável. Essas suas promessas podem ser que não convenceram ainda um ou outro banqueiro, gestor de fundos ou analista financeiro, mas ao Fundo Monetário Internacional tudo indica que convenceram.

Horst Köhler, diretor-gerente do FMI, assegurou que aquela instituição multilateral rejeita “interferência externa no processo democrático” brasileiro. E discordou do pessimismo dos investidores internacionais com relação ao resultado das eleições no Brasil. Disse com todas as letras: “Não seria apropriado ao FMI escolher o presidente do Brasil. O Fundo mostrou sua disposição em trabalhar com qualquer governo comprometido com políticas econômicas sólidas, evitando, ao mesmo tempo, interferência externa no processo democrático”. Ele ainda criticou os investidores, dizendo que deveriam agir como empresários e não como manada. Para ele, o debate eleitoral brasileiro não representa um risco, mas “parte de um processo saudável e de longo prazo”. As declarações de Köhler foram durante palestra no Conselho para Relações Exteriores (Council on Foreign Relations). Por suas responsabilidades e levando-se em consideração o auditório onde se pronunciou, parece certo que está realmente convencido de que Lula ou qualquer outro presidente que o Brasil eleja não fugirá às responsabilidades assumidas pelo País.

Em outra oportunidade, o diretor-gerente do FMI prognosticou que o Brasil deverá vencer a desconfiança dos mercados e retomar o crescimento de sua economia muito antes do que se espera. E assegurou que o Fundo está pronto para cooperar com qualquer governo que o povo brasileiro escolha para representá-lo. Para ele, uma nova reestruturação da dívida brasileira não será necessária. Köhler aposta numa vigorosa taxa de crescimento econômico.

Tais declarações jogam no vazio tanto a satanização do FMI pelas esquerdas extremadas, quanto esvazia a maledicência de que esta ou aquela candidatura à Presidência do Brasil desagrada aquela instituição multilateral, da qual acabamos de obter nada menos de US$ 30 bilhões de crédito.

Nesta semana, em discurso durante um comício, Lula disse que não será capaz de fazer milagres, prognosticando que mudanças efetivas só poderão ser sentidas pelo menos um ano após sua eventual gestão. Admitamos pois que Lula está enquadrado e enquadrado também está o FMI, não mais “enxerindo” em assuntos soberanos do Brasil, como as nossas eleições.

Esvazia-se o discurso da extrema-esquerda, salvo no que se refere ao combate à pobreza e às gritantes injustiças sociais. Para isso, ainda faltam respostas convincentes do FMI e das forças ditas democráticas.

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