ANTT diz que Ferropar é incapaz de operar Ferroeste

A concessionária Ferropar – empresa responsável pela operacionalização e manutenção da Ferroeste – ferrovia que liga Cascavel a Guarapuava – é incapaz tecnicamente e operacionalmente de prestar serviço público de transportes ferroviário de cargas. A conclusão foi feita pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em relatório de inspeção técnico-operacional encaminhado a diretoria da Ferroeste.

As análises dos técnicos da ANTT apontam que a Ferropar, que administra 248 km de ferrovias, utilizando exclusivamente sua frota, está transportando menos de 6% do volume total escoado pela ferrovia.

No mês de março de 2005, por exemplo, das 105.548 toneladas transportadas pela via, a concessionária carregou somente 5.968 toneladas enquanto que a América Latina Logística (ALL), outras concessionária que atende o transporte ferroviário no Paraná, escoou 99.580 toneladas.

?O relatório técnico demonstra e prova que a Ferropar não possui capacidade alguma de escoar a grande produção de que vem do Oeste do Paraná?, afirmou o governador Roberto Requião, ao explicar que o governo do Estado está estudando as medidas que irá tomar.

Estudo

O relatório, elaborado entre 4 e 8 de abril deste ano, teve como objetivo verificar, principalmente, as condições da via permanente, da oficina de manutenção de material rodante (locomotivas e vagões) e dos terminais, tendo em vista o pleno atendimento dos usuários.

Segundo o estudo da agência reguladora, a pouca capacidade da Ferropar em escoar a produção agrícola é causada pela falta de aquisição de frota de locomotivas e vagões por parte da empresa.

Hoje, a Ferropar está muito longe de alcançar o número de locomotivas e vagões estipulados pelo edital de licitação. A empresa possui apenas 5 locomotivas, sendo que uma está parada no pátio de Guarapuava por problemas mecânicos, e 37 vagões operacionais. Porém, o edital definiu que, para atender a demanda da ferrovia, seria necessária a aquisição de 60 locomotivas e 732 vagões graneleiros.

?Os reflexos da falta de material rodante da Ferropar ficam evidenciados quando verifica-se que a subconcessionária transportou, exclusivamente com sua frota, cerca de 6% das 105.548 toneladas transportadas em março de 2005?, aponta o relatório.

?A empresa não está cumprindo com a sua finalidade. Desde o início do contrato de concessão, a Ferropar ficou sempre muito aquém das metas estipuladas?, completou o diretor-presidente Ferroeste, Martin Roeder.

Manutenção

O relatório aponta também que a Ferropar mantém poucos funcionários para realizar a manutenção da via permanente. Segundo o levantamento da ANTT, a empresa possui apenas 2 turmas, no total de 17 empregados. ?Este quantitativo é insuficiente para uma manutenção adequada?, conclui a agência.

Outro ponto questionado é a falta de Aparelhos de Mudança de Via (AMV) elétricos ou de mola ao longo dos 248 km da ferrovia, o que acarreta a diminuição da velocidade dos trens comerciais e resulta no aumento do tempo da viagem, ?com o agravante da Ferropar adotar o sistema de monocondução, o que obriga o maquinista a descer da locomotiva para operar os aparelhos de manobra?, destaca o levantamento.

Ainda com relação a linha férrea, o relatório classifica medidas de manutenção da via como ?canibalismo da via?. ?Devido a um descarrilamento ocorrido em 2004, os dormentes de concreto danificados foram substituídos por dormentes de madeira retirados da linha de cruzamento, evidenciando canibalismo da via permanente?, apontou a ANTT.

A substituição de dormentes pode ser observada também no ramal de calcário da empresa. No local, os técnicos verificaram a falta de diversos componentes metálicos e até dormentes especiais. ?Provavelmente este material está sendo usado para a reposição de componentes danificados na linha principal da Ferropar?, aponta o estudo.

Erosão

Os técnicos da Agência reforçaram as constatações feitas pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), no início de março, com relação ao processo erosivo encontrado no pátio da empresa em Cascavel.

?Constatou-se erosões de grandes proporções no pátio de Cascavel e que, apesar das notificações e multas aplicadas pelo Instituto Ambiental do Paraná, nenhuma providência foi tomada pela Ferropar para atender as notificações do IAP?, cita o relatório.

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