Antônio Palocci nega uso de recursos de Cuba

Na parte final do pronunciamento de 50 minutos à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o ministro Antônio Palocci negou categoricamente que a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha recebido dinheiro do exterior. "Não há recursos de Cuba na campanha do presidente Lula, não há recursos das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), não há recursos de Angola. Afirmo com segurança porque participei integralmente da campanha e sei que não aconteceram (doações de outros países)", disse Palocci, falando no assunto por iniciativa própria.

O ex-assessor de Palocci Rogério Buratti disse à CPI dos Bingos que foi consultado por outro colaborador, Ralf Barquete, já falecido, a pedido do ministro, sobre a melhor maneira de trazer US$ 3 milhões de Cuba para o Brasil, na campanha de 2002. Há informações de que Buratti tenha revelado ao Ministério Público de São Paulo uma suposta doação de R$ 1 milhão de empresários angolanos de bingo, mas o advogado nega ter feito a denúncia.

Antes de começar sua fala, Palocci avisou aos senadores que se defenderia das denúncias envolvendo seu nome, por serem "questões que ferem a honra como pessoa, pai e profissional dedicado à questão pública".

Palocci fez muitas críticas à atuação do Ministério Público e da Polícia na investigação de Ribeirão Preto. Ao iniciar sua defesa, afirmou: "Não me considero uma pessoa acima de qualquer suspeita. Vejo investigações desenfradas com objetivos políticos claros."

Embora tenha tocado em várias denúncias, em uma reação à tática da oposição de não falar no assunto, para forçar uma presença do ministro da CPI dos Bingos, Palocci falou apenas genericamente sobre cada uma delas.

Disse, por exemplo, que, como prefeito de Ribeirão Preto jamais firmou contratos de saneamento, repelindo suspeitas de favorecimento de empresas prestadoras de serviço. "Os contratos foram feitos pelo governo anterior e prorrogados no governo sucessor (ao dele). E eu sou obrigado a pagar sistemanticamente sobre isso."

O ministro negou também que tenha feito indicação de um antigo colaborador para ocupar cargo de direção na Visanet. A CPI dos Correios denunciou que, por meio da empresa, o Banco do Brasil transferiu dinheiro para agências de publicidade do empresários Marcos Valério Fernandes de Souza, sendo que R$ 10 milhões teriam sido repassados ao PT. "Essa pessoa entrou e saiu da Visa do Brasil em 2002. Nem no governo eu estava", rebateu o ministro.

Outro ponto negado por Palocci foi a existência de uma mesada de R$ 50 mil supostamente paga à prefeitura de Ribeirão Preto, em sua gestão, pela empresa Leão e Leão, para garantir os contratos de limpeza urbana.

A denúncia foi feita por Rogério Buratti. "Não houve ‘mensalinho’, ‘mensalão’, caixa 2. Aquela acusação de R$ 50 mil é falsa e não será comprovada. Sei o que fiz e o que não fiz. Isso eu não fiz", insistiu Palocci.

O ministro disse entender o comportamento de Buratti ao envolvê-lo em diversas denúncias e lembrou que o ex-assessor foi preso. "Já vimos em outros tempos o que pessoas presas, humilhadas, podem fazer. Entendo, compreendo, mas não aceito", declarou.

Palocci também negou ter usado um avião particular emprestado por empresários para ir a uma feira em Ribeirão Preto. Disse que viajou em avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que apresentou documentos comprovando, mas que isto jamais foi noticiado. Rejeitou ainda as acusações de ter permitido negócios irregulares envolvendo o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e a empresa Gtech. "Nada foi feito, foram eventuais lobbies mal-sucedidos, se é que ocorreram", disse.

O ministro disse que, nas duas vezes em que foi prefeito de Ribeirão Preto, sofreu "devassas não constitucionais" em suas contas, com investigação pela polícia e pelo Ministério Público de todas os contratos que assinou e não apenas aqueles sobre os quais havia suspeitas. "Esse filme passou em sessão local e agora se repete em circuito nacional", disse Palocci.

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