Antes só…

Ainda debruçados sobre o escândalo Waldomiro – como provisoriamente está sendo chamado o episódio que envolve o ex-braço-direito do ministro José Dirceu, da Casa Civil do governo Lula -, os brasileiros se perguntam, às vésperas do Carnaval, por qual motivo o Planalto trata de responsabilizar o ex-candidato José Serra pelas gravações que deram à luz o fio de uma meada que não se sabe onde, nem quando terminará. Se assim agiu o ex-candidato, nada mais fez que sua obrigação como, de resto, seria esta a obrigação de qualquer brasileiro não conluiado com achaques, propinas, ou fundos ilícitos de campanha.

É evidente que a “acusação” – diga-se, sem provas, baseada apenas no achismo alhures condenado pelo próprio presidente Lula – visa a construção de uma manobra meramente diversionista. Através dela, que nos custa dinheiro e o tempo sempre precioso do parlamento, a velha tática do PT ora encurralado reaprende o brilho do ataque. Mas cai na esparrela, pois hoje o governo precisa cuidar mais do que diz e, muito mais, do que faz. Aliás, precisa cuidar até com quem anda…

Seja quem for – e a rigor não interessa nem mesmo os motivos – que deu à nação conhecimento dos fatos fartamente ilustrados (um flagrante delito!), merece um prêmio. No “Velho Oeste” da corrupção, prêmios podem render bons trocados. E a entregá-lo, pelo menos era nossa esperança, deveriam propor-se os mais destacados homens da República. Mas eles não apenas se recusam a fazê-lo, como tratam de cobri-lo com a velha cortina de fumaça da generalização e das tergiversações. Pois o PT diz que aceita a CPI desde que ela seja ampla, geral e irrestrita. Ora, ora. Isso equivale a dizer que está consciente de que a lama está em todos os cantos. Inclusive no seu. Então, lambuzemo-nos todos!

O que está em jogo é saber até que grau o ministro José Dirceu, o “capitão do time”, segundo Lula, estava ou está comprometido com os torpes atos de Waldomiro, prontamente exorcizado assim que a bomba explodiu. Se deles ao menos tinha conhecimento, mesmo que fossem -como diz – pertencentes a uma outra época. Se, além de Dirceu, outros condestáveis participaram ou ainda participavam do diletante jogo das arrecadações subterrâneas. Ou armavam novos planos para futuros achaques, perdão, embates eleitorais. Alguns ratos da moralidade nos oferecem agora como oportunidade redentora o debate sobre a reforma política que traz a reboque a proposta do financiamento público das campanhas. Como se o mal todo estivesse unicamente no sistema atual e não em corrompidos senhores de terno, gravata e paletó, agora de olho no erário público.

O ministro José Dirceu disse que o caso, para o governo, está encerrado. Pinóia. Não se enterra assim esse escândalo que mal nos dá idéia de sua vastíssima extensão arrasadora. Nem serve à democracia o silêncio, como quer o presidente do Senado, José Sarney, de conhecidas posições contemporizadoras em momentos turbulentos. Pois enquanto houver uma única dúvida, enquanto não forem respondidas todas as perguntas sugeridas pela relação incestuosa entre o principal ministro do governo Lula e um delinqüente (pode até ser do passado, não importa) até ontem com trânsito livre nos mais altos corredores do Planalto, a democracia sai enfraquecida e fundamente ferida exatamente pelos que falam em sua defesa.

Este é um governo que tem justificativas para tudo. Desde o descumprir promessas de campanha até adoção de teses que ele próprio derrotou nas urnas, a mudança de comportamento e de opinião passou a ser mérito em vez de quebra de compromissos ou estelionato eleitoral. Não venha ele agora alterar também a velha sabedoria que nos ensina conhecer as pessoas pelos que com elas andam. Antes, que ele próprio aprenda outro aforismo, segundo o qual é melhor só que mal acompanhado. Só que, no caso de José Dirceu, agora é tarde. Inês já é morta!

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