Antecipação da safra provocará queda no preço do álcool, prevê economista

Os preços do álcool hidratado, vendido nas bombas, e do álcool anidro, que é misturado à gasolina, devem começar a cair em poucas semanas. A previsão, diante do anúncio de antecipação da safra de cana-de-açúcar, é da economista Heloísa Lee Burnquist, coordenadora do Projeto Sucro-Alcooleiro do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).

O preço do álcool vem sofrendo reajustes semanais desde o final do ano passado, devido ao período de entressafra. A colheita já começou no Paraná e, até abril, 90% das 250 usinas da região Centro-Sul estarão cortando e moendo cana para a produção de álcool. A safra tem início, normalmente, em maio. "É um movimento que se repete todos os anos. Na entressafra, o preço do álcool sobe. Com o início da safra, há uma queda bastante acentuada", observou a economista.

A alta no preço do álcool teve um componente a mais, segundo ela: a popularização dos carros bicombustível. O país tem hoje, de acordo com dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 1,2 milhão desses chamados carros flex fuel vendidos. O primeiro veículo criado com a nova tecnologia foi lançado em março de 2003. No ano passado, houve um crescimento de 52% da participação média dos carros bicombustível no mercado, com a venda de mais de 855 mil unidades. Em 2003, foram vendidos 48,1 mil e no ano seguinte, 328,3 mil. "Com isso, aumentou a demanda pelo álcool, já que o consumidor tem a liberdade de decidir pelo combustível mais em conta. Quem dita os preços é o mercado, mas em última instância é o consumidor", enfatizou Heloisa Burnquist.

Para a economista, uma queda acentuada no preço do álcool também não é interessante porque sobrecarrega o produtor. "Até porque, depois, com a entressafra, é normal o aumento. Aí o consumidor analisa que o reajuste foi pesado, mas não leva em conta que diminuiu bastante primeiro", observou.

Heloisa Burnquist defende a adoção de um mecanismo do tipo "estoque regulador", para tirar o álcool do mercado quando houvesse oferta em excesso e recolocar o produto na praça em momentos de redução nos estoques. "Acho difícil o governo trabalhar isso sozinho, até porque não regula mais os preços dos combustíveis. Seu papel poderia se restringir ao acompanhamento dessa distribuição, via ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). A execução poderia ficar por conta de uma associação entre produtores e distribuidores, que também são afetados pelas oscilações de mercado e de safra", sugeriu.

Voltar ao topo