Animais do mundo, uni-vos!

No fim do mês passado, uma notícia causou polêmica na comunidade científica mundial. Um trabalho desenvolvido por cientistas da Escola de Medicina da Wayne State University, de Detroit, Michigan (EUA), mostra que humanos (Homo sapiens), chimpanzés (Pan troglodytes) e bonobos (Pan paniscus) têm em comum 99,4% do código genético. Segundo o doutor Morris Goodman, que liderou o grupo responsável pela pesquisa, a semelhança é suficiente para as três espécies sejam incluídas não apenas na mesma família do homem, a Hominidae, mas também no mesmo gênero, o Homo. O que, a princípio, parece apenas uma descoberta científica, pode ter desdobramentos surpreendentes.

Antes mesmo dessa notícia, o jurista Steven Wise, defensor dos direitos dos grandes primatas (grupo que inclui, além das três espécies já citadas, o gorila, o orangotango, o gibão e o siamang), não está longe o dia em que um advogado representando um chimpanzé, por exemplo, poderá processar um ser humano em uma corte de Justiça por ter sido encarcerado, torturado e explorado. E o humano poderá ser condenado a penas de multa ou prisão. Um exemplo recente de vitória dos defensores dos direitos dos grandes primatas ocorreu na Suécia, onde foram proibidas, a partir deste mês, experiências médicas e em laboratório com esses animais.

Os grandes primatas têm um córtex cerebral muito desenvolvido. Em alguns casos, a inteligência é tão próxima da nossa que, praticamente, a única coisa que os diferencia de nós é a fala. Gorilas e chimpanzés são capazes de aprender a linguagem de sinais dos surdos-mudos, adquirir um bom vocabulário, formar frases e até exprimir idéias abstratas. Na bisonha adaptação cinematográfica do romance Congo, de Michael Crichton, resolveram até dar à “gorila” do filme (na verdade, um boneco grotesco) uma luva de realidade virtual acoplada a um sintetizador de voz, que traduzia os sinais em palavras. Resultado: o bicho, pelo menos na ficção, não faltava nem falar… Infelizmente, esses animais estão na lista das espécies ameaçadas de extinção. São vítimas de caçadores nas florestas da África Equatorial, onde sua carne é muito apreciada pelos nativos.

Grupos de defesa dos animais também lutam pelos direitos de outros mamíferos em situação de risco, também conhecidos pela extraordinária inteligência. É o caso de algumas espécias de cetáceos, ordem que inclui golfinhos e baleias. Podemos ir mais longe: todos os mamíferos, desde os mais primitivos, são dotados de um conjunto de estruturas cerebrais denominado sistema límbico, que é responsável pelas emoções e sentimentos, amor, raiva, tristeza, alegria, etc. Quem tem um cãozinho de estimação sabe disso na prática. Por isso, todos eles, independentemente do grau de parentesco com o homem, devem ser respeitados e não merecem maus tratos.

Ari Silveira

(cidades@parana-online.com.br) é chefe de Reportagem de O Estado.

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