Analistas esperam corte de 0,5 ponto da Selic

A ata da reunião de novembro do Comitê de Política Monetária (Copom), o encontro trimestral do Banco Central (BC) com o mercado e o desentendimento entre membros do governo sobre a condução da política econômica estão por trás da opinião da maioria dos analistas que aguardam mais um corte de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic.

De acordo com pesquisa da Agência Estado com 46 economistas, 37 esperam esta decisão do Copom na próxima quarta-feira. Nove apresentaram projeções mais agressivas, de corte de 0,75 ponto.

Na avaliação dos mais "conservadores", pouca coisa se alterou no cenário econômico desde a reunião de novembro. "Só isso já seria um motivo para manter a magnitude dos cortes em 0 5 ponto", afirmou a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Santander. "Há falta de novidades e mesmo o PIB em queda foi relativizado pelo BC. Portanto, o contexto não justifica um corte de 0,75 ponto", reforçou o economista da MCM Consultores, Antonio Madeira.

Mas outros pontos pesaram na formação das apostas destes profissionais. A ata de novembro, segundo o diretor de Renda Fixa do Ático Asset Management, Renato Szklo, deixou muito claro que os cortes da Selic seguiriam no mesmo ritmo. "A ata trouxe uma coloração de que o corte seria de 0,5 ponto", disse.

Para o economista-chefe da SulAmérica de Investimentos, Newton Camargo Rosa, a explicação é mais simples do que pretendem outros analistas. "Esperamos uma redução de 0,5 ponto para encerrar o ano em 18% e manter a coerência com a flexibilização gradual da Selic, como disse a ata do mês passado", afirmou o economista.

A queda produção industrial e do Produto Interno Bruto (PIB), segundo Camargo Rosa, é coisa do passado. "E o BC olha para a frente", disse, recorrendo aos indicadores antecedentes disponíveis que apontam para uma melhora no nível de atividade em novembro.

A reunião trimestral dos diretores do Banco Central com o mercado, na semana passada, também influenciou os analistas. Para os participantes, o BC mostrou-se preocupado com a inflação e nem tanto com os dados negativos dos PIB no terceiro trimestre. "Após a reunião com os economistas e depois da ata, acredito que o BC opte por manter o ritmo de cortes", disse o economista-chefe da ARX Capital Management, Alexandre de SantAnna.

Fogo amigo

Um ponto que, em princípio, parece alheio à decisão da autoridade monetária, mas que ganhou relevância entre os economistas, foi o debate aberto sobre a condução da política econômica por representantes do governo e de instituições e empresas públicas.

O descontentamento sobre a condução da política monetária demonstrada pelo presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, pela ministra Dilma Rousseff e pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, pode causar um efeito contrário, na avaliação dos profissionais.

"A briga entre Dilma e (o ministro da Fazenda, Antonio) Palocci e a afirmação de Gabrielli podem fazer com que o BC dê meio ponto de corte para não gerar a leitura de que há interferência externa na decisão sobre juros", salientou o gerente de mesa de operação do Banco Pine, Diogo Rehder.

Como resposta a este "fogo amigo", o presidente do BC, Henrique Meirelles, deixou claro que manterá o gradualismo, na avaliação dos economistas da GAP Asset Management, Alexandre Maia; do Banco Banif Primus, Eduardo Galasini, e do Banco Cruzeiro do Sul, Márcia Dantas. "Acho que este é o melhor caminho mesmo (um corte de 0,5 ponto). Não existe milagre, como disse Meirelles", afirmou Márcia.

Também para o economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles, o recuo será de 0,5 ponto. "Estou mais convicto do que nunca de que o corte será de meio ponto", disse, argumentando que, além da ata, o discurso de Meirelles influenciou sua estimativa. "Tenho esta aposta desde a ata, documento em que o BC deixou claro que manteria o ritmo das reduções."

A mesma leitura fez a economista-chefe da Mellon Global Investments, Solange Srour. "Eu estava com 0,75 ponto, mas depois da ata do Copom e da reunião com o BC, além do discurso do presidente do BC, mudei minha estimativa", explicou.

Há neste conjunto de economistas do mercado financeiro quem tenha preferência por uma redução maior da Selic, mas opte pelo corte mais tímido em razão do conservadorismo do BC. O chefe de Tesouraria do Société Générale, Flávio Bojikian, é um exemplo. Para ele, o corte da taxa de juros este mês não passará do 0,5 ponto.

"Mas somos totalmente contra. Nossa convicção é de que a economia comportaria muito bem uma redução de 1 ponto porcentual", disse, explicando que há espaço para uma redução maior por causa da valorização do real.

O economista Eduardo Marques, da Opportunity Asset Management, também está neste grupo. "Sem dúvida há espaço para mais", disse o analista, afirmando que nem mesmo na Opportunity há consenso sobre uma redução de apenas 0,5 ponto. "Não desprezamos 0,75 ponto por causa do conjunto de informações que temos, como incertezas em relação à inflação e ao PIB fraco", explicou Marques.

Outro economista que está com uma posição semelhante é o gerente de mesa de operação do Banco Pine, Diogo Rehder. "Mesmo assim, continuo torcendo para que a queda seja de 0,75 ponto", afirmou. Para o economista da MB Associados, Sérgio Vale, a decisão está muito clara. "Não há possibilidade de ser outra coisa. O corte será de 0,5 ponto", afirmou.

Voltar ao topo