O líder do PT no Senado e presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
dos Correios, Delcídio Amaral (MS), afirmou hoje que o ex-secretário nacional de
Finanças e Planejamento do partido Delúbio Soares pôs o futuro da legenda em
risco com as declarações ao "Jornal Nacional", da Rede Globo de Televisão,
admitindo que a sigla fez operações de caixa 2 com o empresário Marcos Valério
Fernandes de Souza. "Está tudo muito ruim. Delúbio está expondo o partido e,
depois de suas declarações, o PT está praticamente com o registro cassado",
disse.
Na entrevista, Delúbio admitiu que acertou em nome do PT
"empréstimos de boca" com Valério, em torno de R$ 40 milhões, que foram
repassados para as campanhas eleitorais do partido em 2002 e 2004, sem que nada
fosse declarado à Justiça Eleitoral. "As declarações dele expõem demais o
partido e a reunião da Comissão Executiva Nacional do PT, terça-feira (19),
certamente vai pegar fogo", afirmou.
O vice-presidente nacional do PT
Romênio Pereira defendeu hoje que a comissão executiva nacional do partido
convoque Delúbio para que conte tudo o que sabe sobre o suposto esquema de
financiamento da legenda em caixa 2, montado com Valério. Pereira disse que
Delúbio tem preferido apresentar novas versões sobre o que sabe diretamente para
a imprensa ou em depoimento à Procuradoria-Geral da República. O dirigente
petista reconheceu que "se sente enganado" pelo companheiro de
partido.
"Todos os dias desaba uma bomba sobre o colo do partido. Não é
possível que ele não conte ao PT tudo o que ele realmente sabe sobre o caso. Ele
tem todo o direito de prestar depoimentos a quem ele achar melhor, mas como o PT
poderá fazer sua defesa se sequer tem informação sobre o que ele está dizendo ou
o que ele sabe de fato sobre essas acusações?", avalia.
Pereira disse que
defenderá a proposta de convocação imediata de Delúbio na reunião de terça-feira
da executiva como forma, inclusive, de preservar o partido. "É inegável que o PT
vai levar vários anos para se recuperar desse prejuízo na sua imagem
institucional. Não é à toa que a chapa, que o nosso grupo dentro partido lançou
para disputar as eleições internas, tem o slogan de ‘eu quero o meu PT de
volta’. Acho que esse é um pouco o sentimento geral da imensa maioria dos
petistas, dos militantes. Precisamos, agora, apurar tudo o que houve e punir
aqueles que tiverem responsabilidade em atos irregulares", disse.
Os
novos integrantes da direção do PT também têm interesse em ouvir as novas
explicações de Delúbio. Ontem (16), o sucessor de Delúbio como secretário
nacional de Finanças e Planejamento do PT, deputado José Pimentel (CE), rebateu
a informação da existência de várias empréstimos bancários feitos ao PT por meio
das empresas de Valério. Pimentel, que estava hoje em Fortaleza participando de
reuniões do partido, afirmou ao canal a cabo GloboNews que estão contabilizados
apenas dois empréstimos bancários ao PT nos quais o empresário figura como
avalista.
Segundo o tesoureiro, um dos empréstimos foi feito no banco
Rural, no valor de R$ 3 milhões, e o outro, no banco BMG, no valor de R$ 2,4
milhões. "São duas obrigações incômodas que o partido tem e que precisa
solucionar", disse Pimentel.