Aliados reclamam de postura da Polícia Federal em reunião com Lula

Os líderes dos partidos aliados reclamaram, na reunião desta quinta-feira (24) do Conselho Político da coalizão de governo, no Palácio do Planalto, da postura da Polícia Federal (PF) na "Operação Navalha", informou hoje o ministro de Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, ao sair do encontro. Segundo outros participantes da reunião, o clima, antes e depois da chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ficou tenso, com os parlamentares afirmando que a PF estaria deixando vazar informações que estão sob segredo de Justiça e cobrando providências.

"Estamos num estado democrático de direito, e as garantias individuais são essenciais, mas os excessos (da PF) devem ser apurados", afirmou Mares Guia aos jornalistas. O ministro fez, porém, a ressalva de que os eventuais excessos "não podem usados para desqualificar a operação", pois "toda ação pode ter algum excesso.

"O que a gente tem que ter cuidado é de identificar o excesso, evitar que ele se repita e punir, se for o caso, mas, em hipótese alguma, deixar a menor suspeita de que a Operação (Navalha) não é fundamental numa política de combate à corrupção", disse Mares Guia. Ele citou um exemplo de excesso, contando que, em Salvador (BA), a família de um dos investigados pela Operação Navalha ofereceu a chave da porta de sua casa para um policial federal entrar, "mas o agente preferiu arrombar a porta.

Vazamento de informações

Segundo o relato do ministro de Relações Institucionais, o presidente Lula e o ministro da Justiça, Tarso Genro, se comprometeram a mandar apurar o que possa ser considerado excesso da PF. Mares Guia contou ainda que os líderes disseram que consideram excesso o vazamento de informações para a imprensa sobre a operação antes da conclusão das investigações, já que as gravações são resultado de autorização judicial e constituem segredo de Justiça.

"Alguns parlamentares reclamaram dos excessos e da conduta da Polícia Federal", contou Mares Guia. Ele fez questão de destacar no entanto, que o próprio presidente Lula deixou claro, na reunião, que respeita o papel da Polícia Federal e outras instituições que atuam nas investigações. "É essencial que tenhamos operações com autonomia, pois o combate à corrupção é próprio da democracia", afirmou o ministro. Nas contas dele, das 20 intervenções de parlamentares durante a reunião do Conselho Político, oito foram sobre a Operação Navalha e 12 sobre a reforma política. Um dos que reclamaram, segundo o ministro, foi o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), que lembrou que a Constituição garante respeito aos direitos individuais.

"Canalhice"

Sobre a declaração do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, que disse que a PF está fazendo "canalhice" ao divulgar as informações sobre a operação, Mares Guia afirmou: "Se ele falou isso, é porque tem as razões dele, de foro íntimo, que eu desconheço. É uma opinião respeitável. Se é um segredo de justiça, tem que ser respeitado. Isso (o vazamento) fere a Constituição. Nisso, ele (Mendes) tem razão.

Os líderes, segundo relato de outros dois parlamentares participantes do encontro, cobraram com ênfase explicações e providências do ministro Tarso Genro, e o clima ficou tenso. Um dos políticos presentes à reunião chegou a afirmar que os telefonemas de "todos, no Congresso", estariam sendo gravados e que "a indústria do grampo se espalhou em Brasília e não seria exclusividade da PF". O ministro Tarso Genro, de acordo com o relato, brincou, dizendo: "Eu não posso dizer se também estou sendo grampeado.

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