Alemã Audi pára de fabricar carros no Brasil

Foto: Divulgação

Modelo só será fabricado na Alemanha, em nova geração.

A última unidade A3 brasileiro será produzida em São José dos Pinhais (PR) daqui a duas semanas. O carro de médio porte da Audi, tradicional empresa alemã cujo símbolo são quatro alianças entrelaçadas, sai de linha sete anos depois da inauguração da fábrica, numa associação com a Volkswagen. A Audi é mais uma marca que abandona a produção local para voltar a ser importadora. A nova geração do A3, bem mais cara que a atual, começará a ser importada da Alemanha em setembro.

Da leva de novas montadoras que chegaram ao País nos últimos dez anos, a Audi é a quarta a desistir da produção. A Chrysler fechou a fábrica da picape Dakota no Paraná. A International desativou a linha de caminhões no Rio Grande do Sul e a Land Rover deixou de montar no ABC o jipe Defender. A Mercedes-Benz acabou com o Classe A em Minas Gerais, mas fará um modelo para exportação.

O A3 é feito na mesma plataforma do Volkswagen Golf, que ganhará nova cara em 2007. A reestilização prorrogará a vida do automóvel que tem o mesmo design desde 1998. O Golf brasileiro é o da quarta geração, enquanto na Europa circula a quinta geração desde 2003.

Senna

Ancorada na imagem do piloto Ayrton Senna, que trouxe a marca ao País como importador e depois fez parceria com a montadora na área de distribuição, a Audi tornou-se sonho de consumo. Agora, o sonho ficou mais distante. O novo A3, o Sportback, deve custar entre R$ 110 mil e R$ 150 mil. A versão nacional custa a partir de R$ 66,9 mil. Desde o início da produção, em 1999, foram vendidas 50 mil unidades.

?O A3 brasileiro é mais acessível, atende a uma camada específica de consumidores, mas a partir de agora o degrau para ter um Audi será mais alto?, analisa Alejandro Penedo, diretor da consultoria Interbrand.

Num País em que mais de 50% das vendas são com carros motor 1.0, chamados de populares, só 1,4% do mercado se concentra em carros de luxo, a maioria importados. A Audi liderou o segmento, tendo o A3 como carro-chefe. A marca tem modelos que custam até R$ 709 mil, como o A8 Limousine 6.0.

As vendas do Audi A3 chegaram a 11 mil unidades em 2001, mas despencaram. Este ano foram apenas 1,3 mil unidades, já sob o impacto do anúncio do fim da produção.

A matriz fez o anúncio em janeiro de 2004, na Alemanha. A produção seria interrompida no fim de 2005. Leonardo Senna, que assumiu o negócio após a morte do irmão, conseguiu um ano extra de produção. Apesar da paralisação da linha nos próximos dias, a Audi fez estoques para vender o modelo até dezembro. Nesse período, o A3 brasileiro vai conviver com o alemão, que será lançado em setembro. A expectativa é de vendas de mil unidades ao ano do Sportback.

A rede de revendedores, hoje com 21 lojas, acredita que o número pode chegar a 2 mil unidades se o preço for mais competitivo, na casa de R$ 80 mil a R$ 130 mil. A Audi Brasil Distribuidora, presidida por Daniel Buteler, negocia com a fabricante uma redução de preço.

Novo modelo

O A3 Sportback é bem diferente do atual. É maior e com mais conteúdo tecnológico, diz o presidente da Associação dos Distribuidores Audi, Sérgio Maia. Foi lançado na Europa em 2004. A matriz disse que não compensava novo investimento para produzi-lo no Brasil diante da baixa demanda.

A fábrica do Paraná consumiu investimentos de US$ 750 milhões. A Audi entrou com 21% dos recursos. Por enquanto, a empresa vai ceder a participação à parceira. A Volks informa que o espaço deixado pelo A3 será ocupado pelo Golf e pelo Fox. Ambos, porém, perderam contratos de exportação. A fábrica está incluída no plano de reestruturação do grupo no Brasil e pode ter de contribuir com 1,4 mil das quase 6 mil demissões previstas até 2008.

A Audi trará mais 6 modelos este ano: em setembro, chegará o utilitário Q7, depois, os modelos S6, S8, RS4 sedã e perua e o A4 Cabriolet.

Fim da linha de montagem não provocará demissões

O fim da produção do veículo Audi A3 não deve provocar a demissão de funcionários da Volkswagen-Audi, em São José do Pinhais, nem trazer mudanças. É que a montadora já vinha produzindo um número reduzido do modelo: entre 10 e 20 unidades por dia, para um total de 810 veículos.

?Chegamos a produzir 60 carros desse modelo por dia, que somava cerca de 15 mil unidades por ano?, afirmou o coordenador da comissão de fábrica da Volks-Audi, Gilson Ricardo Santos Batista, referindo-se ao auge do modelo no País, entre três e quatro anos atrás. ?De lá para cá a produção foi caindo, até chegar aos números atuais.? Além de atender o mercado interno, o Audi A3 fabricado em São José dos Pinhais ainda é exportado para países vizinhos como Argentina e Chile. ?Este modelo A3 já é ultrapassado. O A3 da Alemanha tem outra configuração?, lembrou.

Fox

De acordo com Gilson Batista, o que preocupa de fato os funcionários é o modelo Fox, especialmente a produção que segue para os países da Europa. ?Com o passar do tempo, a lucratividade foi caindo. A montadora precisou cobrir despesas para exportar e hoje ela só continua exportando para cumprir contrato e não perder mercado?, apontou Batista.

Segundo ele, no ano que vem o modelo deve chegar ao mercado europeu com preço maior, o que pode reduzir as vendas e dificultar o fechamento de novos contratos. Conforme Batista, a montadora no Paraná produz cerca de 700 unidades do Fox por dia -40% deles são mandados para a Europa.

Devido às dificuldades provocadas pelo câmbio atual, a direção da empresa fala em demissões nas unidades do Brasil. Só em São José dos Pinhais, onde há cerca de 4 mil funcionários, a previsão é que 900 deles sejam demitidos a partir de dezembro deste ano. As demissões fazem parte do plano de reestruturação anunciado pela direção da montadora em maio, que envolve ainda as unidades de Taubaté e de São Bernardo do Campo. A previsão é que cerca de 6 mil funcionários sejam demitidos até 2008. (Lyrian Saiki)

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