Adeus às aulas…

Em 1967 eu advogava tranqüilamente em Jacarezinho, minha cidade natal, para onde retornara pouco tempo antes, após a conclusão de meu curso na gloriosa Universidade Federal do Paraná.

Era advogado e não pensava em outra alternativa profissional nem mesmo para exercê-la cumulativamente.

De repente, um incontido movimento eclode na minha Jacarezinho, a Jacarezinho de tantas e tão caras tradições culturais e históricas: a criação de uma Faculdade de Direito!

Eram tempos heróicos, época em que a criação de um curso de direito demandava demorados estudos, projetos, análises, debates e muito mais ainda em se tratando de uma pequena cidade do interior ambicionando a sua criação e instalação.

Mas o trabalho então desenvolvido, a história de Jacarezinho no cenário estadual e nacional relativa ao ensino e à educação, possibilitaram o sucesso daquela empreitada que contou com tantos e tão valiosos apoios.

Nascia então a Faculdade de Direito do Norte Pioneiro (Jacarezinho) mais tarde estadualizada e hoje padrão de referência nacional.

E, participando dos trabalhos de criação e implantação dessa Faculdade acabei por me ver envolvido também em seu Corpo Docente e com o início de suas aulas comecei também uma atividade profissional que jamais imaginara que pudesse exercer, a do magistério de ensino superior.

Os anos passaram e, paralelamente à minha banca de advocacia, ampliou-se também minha atividade na área do magistério superior, inclusive como administrador.

Dali para diante ministrei milhares de aulas, no Curso de Direito de Jacarezinho; no antigo Curso de Estágio; passei a atuar na Faculdade de Administração de Empresas de Ourinhos (hoje, FIO); dei aulas de E.P.B. na Faculdade Estadual de Educação Física de Jacarezinho; fui diretor por duas vezes no Curso de Direito; exerci a coordenação do Curso de Direito da Faculdade Estácio de Sá de Ourinhos, onde também assumi uma cadeira; e integro há já 10 anos o quadro de professores da Escola da Magistratura do Paraná, Núcleo de Jacarezinho.

Em meio a essa intensa atividade profissional – advocacia e magistério superior – tive oportunidade ainda para poder servir à Ordem dos Advogados do Brasil, criando a Subseção de Jacarezinho onde fui presidente por 12 anos e integrando o Conselho Estadual da OAB-Paraná durante 14 anos do qual fui também por seis anos seu vice-presidente.

E assim foi que pude acumular uma série sem fim de homenagens recebidas ao longo desses quarenta anos, quase sempre ditadas muito mais pela consideração e amizade de meus milhares de alunos do que por méritos próprios. Fui paraninfo, patrono e nome de turma incontáveis vezes e à minha saída a Faculdade de Direito de Jacarezinho ainda me outorga o precioso diploma de ?Professor Emérito?.

Com indisfarçável orgulho pude acompanhar a trajetória vitoriosa de meus alunos, na advocacia, na magistratura (vários deles são hoje desembargadores), no Ministério Público (muitos também são procuradores de Justiça), como delegados de polícia, professores de ensino superior, procuradores da Fazenda Pública, municipal e estadual, e tantas outras atividades relacionadas ao curso de Direito.

Até que chega o dia em que se conclui que é chegada a hora de se fazer uma pausa e uma reflexão.

E quarenta anos depois, aqui estou para tomar uma nova decisão.

O tempo passou mais depressa do que podia imaginar, meu escritório exige mais e mais a minha presença, alguns de meus filhos adotaram a mesma profissão (um só na advocacia, outro advogado e professor de ensino superior) e urge que se retorne ao ponto de partida, agora novamente com exclusividade.

E o ponto de partida é, e apenas só, a advocacia.

Paro com as aulas nos cursos superiores regulares e para elas transmito minha despedida, embora continue na Escola da Magistratura, com aulas modulares e que exigem menos a minha presença durante o ano letivo.

E voltando os olhos para aquele distante 1967, sopesando todos os prós e contras acumulados durante todo esse tempo, avaliando o que foi minha vida como professor, confesso que só ganhei em conhecimento, amizade, experiência e carinho, daí porque já sentindo as saudades é que faço um sentido adeus às aulas….

Celso Antônio Rossi é advogado em Jacarezinho, professor emérito da Faculdade Estadual de Direito do Norte Pioneiro e cidadão emérito de Jacarezinho.

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