A verdadeira humildade

Identificar defeitos alheios é fácil. Identificar virtudes, alheias ou próprias, nem tanto. Veja-se o caso da humildade, que é a virtude mais freqüentemente dissimulada.

Quem não conhece o humilde condicional? Aquele que, em razão da sua condição social ou emocional, tem a soberba abafada e é obrigado a parecer humilde. Contudo, na primeira oportunidade, esse falso humilde mostra a sua verdadeira face rancorosa. Ou seja, está humilde, mas não é humilde. Quando detém um poder, ainda que pequeno, promove as mesmas humilhações das quais foi vítima. Não tem qualquer sentimento de solidariedade com aqueles que fizeram parte do seu passado e que se encontram numa condição menos favorecida.

Há também o humilde reluzente, aquele cuja humildade salta aos olhos. Está sempre tomando uma atitude de abnegação caridosa, o que lhe confere a aparência de humilde. Entretanto, sua humildade é falsa porque visa apenas a satisfação do seu ego. Seu objetivo é justamente parecer humilde. É o egocentrismo disfarçado, um ardil da vaidade. E quando recebe alguma honraria (a qual discretamente buscava), a sua fala típica é: ?Agradeço, mas não mereço?. Depois desse charme, acaba aceitando a distinção de muito bom grado porque, intimamente, dela se julga mesmo merecedor.

Já o verdadeiro humilde não procura ser humilde. Sua humildade é autêntica, pois não está condicionada a fatores externos e nem é fruto de premeditação. Aliás, como não se sente especial, o verdadeiro humilde não vive atrás do reconhecimento social. Sua humildade é discreta, quase imperceptível. Tem segurança, embora também não se dê conta disso. Não busca o luxo e, menos ainda, honrarias porque sabe que isso o tornaria sedento por tratamento diferenciado. Para muitos, o verdadeiro humilde não passa de um tolo, mas ele é uma pessoa simples, descomplicada.

Em conclusão, a verdadeira humildade é aquela da qual não se tem consciência. É como diz a canção Canto de Ossanha, de Vinicius de Moraes e Baden Powell:

?O homem que diz sou, não é

Porque quem é mesmo é não sou?.

Djalma Filho é advogado – djalma-filho@brturbo.com.br

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