A saída são os fundos

Os números demonstram que os setores produtivos estão engessados, com poucas alternativas de captar recursos para investimentos. Esse problema adia a estréia do “espetáculo do crescimento” prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os indicadores do primeiro trimestre de 2003 – PIB menor do que o de igual período de 2002, desemprego elevadíssimo, chegando a 20,6% na Grande São Paulo, e queda de 8,6% no rendimento dos trabalhadores em abril, em relação ao mesmo mês do ano passado – são coerentes com as projeções do Banco Central, de que a economia brasileira crescerá ínfimo 1,5% neste exercício, contra previsão anterior de 2,2%. É necessário encontrar caminhos para a retomada dos investimentos produtivos, pois recursos financeiros com essa finalidade são cada vez mais escassos. A dependência da poupança externa para financiar o balanço de pagamentos faz com que a economia brasileira fique vulnerável às oscilações do capital especulativo que circula pelos fluidos canais da globalização.

Há, ainda, o agravante interno da dívida pública, que já chega a quase metade do PIB e cujo serviço consome mensalmente a bagatela de R$ 17 bilhões. Para financiar esse passivo, os títulos públicos pagam os juros mais altos do mundo e o apetite tributário do governo é cada vez mais voraz, tendo avançado de 25% para cerca de 34% do PIB, desde 1994. Ou seja, tudo conspira contra o crescimento do nível de atividades, à medida que o dinheiro é cada vez mais transferido da produção para o serviço da dívida, controle monetário da inflação e sistema financeiro. Neste cenário, os fundos de pensão – considerando que seus recursos não se ancoram em dívidas – são uma das únicas alternativas à formação de poupança interna destinada a projetos de investimentos produtivos, podendo estimular a retomada do crescimento sustentado. Seus recursos também não estão comprometidos com o orçamento da União, estados e municípios ou com quaisquer compromissos atrelados à dívida pública.

Assim, não é sem razão que os fundos têm sido responsáveis por numerosos projetos em todo o País, com resultados positivos em termos de geração de empregos em larga escala, atração de novos investimentos produtivos, nacionais e estrangeiros, e criação de bolsões de desenvolvimento. Exemplo disso é o complexo do World Trade Center (WTC) em São Paulo, um dos empreendimentos impulsionadores da região da Avenida Berrini, que mudou radicalmente o bairro e o perfil dessa região da capital paulista, estimulando numerosas obras e a conseqüente geração de milhares de empregos diretos e indiretos.

Empresários de todos os setores reclamam muito contra a falta de crédito e taxas de juros civilizadas para o financiamento de projetos produtivos. Na verdade, as linhas de crédito existem no papel, mas não há recursos suficientes para operacionalizá-las. Assim, alternativa muito viável seria “engordar” com recursos dos fundos de pensão as linhas existentes em bancos federais e estaduais, facilitando o acesso por parte das empresas, inclusive as pequenas e médias. Estima-se que, atualmente, o valor disponível nos planos de previdência complementar – que constituem as reservas dos fundos de pensão -some cerca de R$ 180 bilhões. É um montante expressivo, mas que precisa crescer cada vez mais, para fazer frente à demanda reprimida dos investimentos produtivos.

É importante que os gestores dos fundos de pensão tenham consciência de que investir em um empreendimento pode parecer, num primeiro momento, menos interessante em termos de rendimento, pois são atraentes as taxas de juros do mercado financeiro, mas há um fator importante a ser considerado: um investimento produtivo cria empregos e renda, estimula os negócios e é muito mais seguro para o futuro do próprio fundo e para a garantia do pagamento das aposentadorias do que uma aplicação no sempre oscilante mercado financeiro globalizado. Um hotel, por exemplo, além dos empregos referentes ao projeto e obra, multiplica postos de trabalho a partir de sua operação, não só na contratação de seus funcionários, como nas áreas de turismo, convenções e transportes, dentre outras.

Ao optarem por investimentos produtivos, os fundos de pensão estimulam o chamado círculo virtuoso da economia, ou seja, gerando emprego, emprego gerando renda, renda gerando demanda, demanda gerando produção, produção garantindo os recursos necessários à sobrevivência e liquidez dos próprios fundos. Contudo, se a economia não crescer, os fundos, a médio e longo prazos, estarão incluídos entre as instituições em risco de extinção. Assim, é fundamental que não sejam coadjuvantes, mas estejam dentre os protagonistas do espetáculo do crescimento.

Gilberto Bomeny é presidente do World Trade Center (WTC) do Brasil.

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