A palavra é privatizar

Conceitos profundamente arraigados na práxis política de esquerda, sucumbem sem a menor dúvida diante dos reveses que tais ideólogos experimentam quando evoluem da posição de críticos contumazes do fracasso do modelo administrativo neoliberal, até se tornarem por via democrática ou golpes de força, responsáveis pela condução dos negócios públicos.

Estamos nos referindo à admitida disposição anunciada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva quanto ao processo de privatização da Infraero, empresa estatal encarregada de gerir a infra-estrutura aeroportuária distribuída pelo território nacional em 67 aeroportos. O governo já havia delegado ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a tarefa de encaminhar as tratativas do processo.

A princípio se pensou na abertura do capital da empresa e na venda de até 49% das ações ordinárias, a fim de permitir que o controle da gestão continuasse com a União. Todavia, a decisão teve de ser mudada diante dos fartos indícios da falta de interesse do mercado em participar do negócio, exatamente em função da medida restritiva de que o controle acionário da empresa deverá permanecer sob o talante governamental.

Diante da sinalização negativa do mercado, estribada em rumores constantes da prática de corrupção na administração da estatal e das dificuldades naturais para levar adiante a proposta, o governo mudou de estratégia e passou a concordar com a alternativa reiterada pelo mercado: a compra do controle acionário.

A Infraero administra 67 aeroportos, 80 unidades de apoio à navegação aérea e 32 terminais para o transporte logístico de cargas e encomendas. Apenas dez aeroportos, dentre os quais Congonhas, Galeão, Guarulhos, Viracopos e Santos Dumont, são considerados lucrativos.

Mesmo com o sinal verde emitido pela ministra Dilma Rousseff admitindo a privatização da Infraero, é sabido que amplos setores do PT vão gastar todos os cartuchos para dificultar o andamento das negociações por parte do BNDES. Nesse aspecto, os rebeldes do PT contarão com o apoio das centrais sindicais representadas no governo por dirigentes nomeados para cargos importantes. Nada como um dia depois do outro. 

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