A oposição de Heloísa Helena

O ditado é: “Quem tem um amigo da onça não precisa ter inimigos”. Ou melhor: quem tem fulano como amigo não precisa ter inimigos. O ditado refere-se àqueles amigos que sempre estão nos “sacaneando”, mesmo que involuntariamente.

Plagiando, poderíamos dizer que governo que tem uma Heloísa Helena, a senadora de Alagoas, como inimiga, não precisa ter oposição. Ela, sozinha, faz estragos suficientes, tal a sua capacidade de luta, sua coragem, seu perfil político, que contrasta com sua figura feminina aparentemente frágil. Ela é dura na queda e não rejeita uma batalha, desde que esteja armada de seus princípios e ideologia.

Errou o PT ao expulsá-la do partido, não levando em consideração sua longa história de lutas no e com o partido. Ela já esteve na linha de frente de greves, protestos e suportou prisões. É e sempre foi uma petista e de esquerda, posição histórica do partido. Nunca mudou. O PT é que mudou, com a conquista do poder por Lula e sua atual corte.

Quando da discussão e votação da reforma da Previdência, Heloísa Helena pôs-se ao lado dos trabalhadores e funcionários públicos, contra a lei proposta e os tópicos que considerava e considera contrários aos seus interesses. E contrários ao que pregava o PT, quando era oposição.

Foi, com outros deputados, como “Baba” e Genro, enquadrada como rebelde e, em nome da disciplina partidária, expulsa do partido. Chorou de tristeza, mas principalmente de revolta.

Não se retirou da política e muito menos da batalha. Até cogita, em futuro próximo, criar um novo partido que aglutine as forças de esquerda. Ainda vai dar muito incômodo ao governo, quando for votada, no Congresso, a chamada emenda constitucional paralela, que pretende algumas correções na reforma da Previdência. Insistirá com suas discordâncias, a principal delas a taxação dos inativos.

Heloísa Helena é um prego no sapato do governo, que não quer uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o caso Waldomiro Diniz, que foi subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, inclusive sob o comando do todo-poderoso ministro José Dirceu, e foi flagrado negociando com bicheiros. Negócios que se deram na campanha eleitoral, para arrancar dinheiro com o fim de financiar campanhas de petistas e aliados e, depois, quando já sob o comando de Dirceu, quando teria interferido para que contratos no mínimo suspeitos fossem feitos, envolvendo bicheiros e empresas, inclusive a norte-americana Gtech.

Até agora, José Dirceu parece absolutamente inocente, salvo a culpa de escolher Waldomiro para trabalhar no Palácio do Planalto.

Heloísa promete não parar de lutar para que se instale a referida CPI, chamada de “CPI dos Bingos”. O requerimento para a constituição da CPI já tem assinaturas suficientes, mas, para que funcione, é preciso que os partidos que nela serão representados nomeiem seus representantes. Heloísa promete brigar contra a derrubada da CPI na Comissão de Constituição e Justiça e no plenário. As esperanças governistas estão no presidente do Senado Federal, José Sarney, um antipetista histórico que aderiu só na campanha eleitoral e hoje é um aliado de Lula. Ele pode barrar a comissão no Senado, obstaculizando seu funcionamento com a não-indicação de seus membros.

Heloísa, supondo que a CPI pode não sair pela ação governista por detrás dos panos, é irônica e contundente ao dizer: “A sorte deles (governistas) é a de contar com o velho balcão de negócios para os que atendam os seus desejos”.

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