A luz de Requião

Está certo o governador do Paraná, Roberto Requião: primeiro que se resolvam todos os atos lesivos aos cofres do Estado e depois que se estudem reajustes de tarifas para a energia elétrica a serem pagas pelo povo feliz. Tem gente ganhando fábulas com luz e força no País, dentro de um sistema que estabeleceu negócios onde quem gera ou distribui energia, como o Paraná, pouco lucra. É preciso rever contratos e cambalachos. E disciplinar decentemente o setor energético nacional, onde os riscos do apagão constituem apenas a ponta do iceberg.

Requião não apenas vetou o aumento autorizado de 25% nas tarifas de energia elétrica, como anunciou que dará desconto a quem paga suas contas em dia ou conseguir pagar contas atrasadas – que não são poucas. “O Paraná não praticará esse aumento por causa do pesado impacto que ele teria sobre a nossa economia”, disse o governador que luta contra também os preços abusivos do pedágio cobrado ao longos das estradas do Anel de Integração. Com tanta energia que temos, precisamos é aumentar o consumo, decretou o governador.

Segundo diz Requião, o governo viu-se diante de duas hipóteses: ou dar aumento alto (que poucos podem pagar) para manter a lucratividade da Copel que, felizmente, não foi privatizada, ou praticar um reajuste razoável, que muitos poderão pagar, mantendo da mesma forma a lucratividade da companhia. “Nossos empresários – disse – devem ser estimulados e liberados para produzir e crescer, criando em conseqüência mais vagas para nossos trabalhadores.” Energia e luz, além de iluminar e movimentar máquinas, têm função social preponderante. Mais que os lucros da Copel, interessa o bem-estar dos paranaenses.

O mesmo discurso deveria ser praticado com os telefones, cujas tarifas acabam de ser majoradas com índices médios de 28,75%, mas que em alguns casos são superiores a 41%. Nem mesmo a interferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro das Comunicações, Miro Teixeira, teve peso suficiente para impedir um aumento que vem travestido de contratual, mas rema contra a maré do combate sem tréguas à inflação -pressuposto básico para a baixa dos juros e a retomada do crescimento em todo o País. Aqui, pelo visto, o crescimento é lícito apenas às concessionárias do serviço público, que pegaram o bonde andando, já pago pelos contribuintes.

Os preços dos serviços telefônicos, daqueles da energia elétrica e de outros serviços básicos não podem ignorar a vertiginosa queda da renda média do trabalhador brasileiro, que perdeu em média quase 15% de seu valor no curso dos últimos doze meses. Isso significa que as pessoas nem estão mais preocupadas com o valor quantitativo da retribuição de seu trabalho; preocupam-se em manter o trabalho, seja ele qual for. Pela degradação da qualidade de vida de milhões, a responsabilidade é, também, do próprio governo, que não abre mão de sua parte.

A posição adotada pelo governador Roberto Requião deve, pois, ser apoiada. Ela vem em momento certo e na dose exata. O Estado não serve apenas para cobrar tributos e manter direitos adquiridos de privilegiados; deve servir para distribuir justiça e bem-estar ao povo, já cansado de ouvir fabulosas histórias a respeito de lucros exorbitantes de companhias que dependem – como no caso da luz, da água e do telefone – das tarifas pagas em valores acima do razoável. Que a luz do exemplo de Requião se dissemine pelo resto da Nação.

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