A grande crise

?A crise do partido é muito maior que a crise do governo?, disse no ouvido de Lula o ainda ministro da Educação e novo presidente interino do PT Tarso Genro. Tarso, que pegou o abacaxi de consertar o Partido dos Trabalhadores depois da eclosão de repetidas crises e denúncias contra seus membros e dirigentes, os principais dos quais já caíram, entende que ?a crise do partido é uma crise de fundamentos, de princípios. Nós dilapidamos nosso capital moral em relação à sociedade, nós dilapidamos nossa referência ética?.

Esta observação é mais grave do que a de que também as contas do PT foram dilapidadas, o partido devendo hoje mais de R$ 20 milhões. É dinheiro tomado a bancos, inclusive o Banco do Brasil, que é oficial. E de outras instituições financeiras, tendo como intermediário um empresário mineiro que os brasileiros não conheciam, mas que, de repente, aparece como eminência parda do PT e do governo Lula, obtendo empréstimos bancários para o partido, avalizando-os e, ao mesmo tempo, mantendo altos negócios com o poder público, nos quais vinha ganhando muitos milhões.

Tarso Genro já mostrou a sua lealdade a Lula. Ficou com ele até quando sua filha, deputada federal petista ortodoxa, foi expulsa do partido por pedir que o governo de Lula seguisse a linha que havia prometido ao povo durante os 25 anos de sua existência e, principalmente, durante a campanha eleitoral.

Ao dizer que se trata de uma crise de fundamentos, de princípios e que foi dilapidado o capital moral do partido, Genro quer dizer que, de vestal o PT acabou se transformando, perante a opinião pública, em uma agremiação que comete pecadilhos, pecados mais graves e, de passo em passo em falso, acabou dando para muita gente. Dando mensalões, como denuncia o nada ético deputado Roberto Jefferson, que era presidente do PTB, partido componente das bases do governo Lula e, antes, do governo Fernando Collor.

Tarso mandou fazer sindicâncias e não afasta em hipótese de uma auditoria no PT. E, pelo visto, ainda não sabe como vai conseguir dinheiro para tapar o buraco nas contas do partido, a despeito ou exatamente porque pegou empréstimos volumosos no mercado financeiro.

Tarso Genro ainda disse a Lula que a principal deformação ?no relacionamento do PT com o governo Lula exige que seja montado um código de conduta. Referia-se às relações de dirigentes, que não tinham vínculos com o governo, com os gabinetes de Brasília, como Delúbio Soares e Sílvio Pereira. Certamente também a intermediários que nem ao governo nem ao partido pertencem. Mas, mesmo assim, intermedeiam negócios, nomeações, manipulam concorrências públicas e fazem outras maracutaias.

O novo presidente do PT aconselha que haja, entre o PT e o governo, uma relação transparente, pois a atual é ?uma relação feita de uma maneira velada em relação ao partido e de uma maneira não transparente em relação à sociedade?. O entendimento é de que, embora difícil, o governo é recuperável. Já o PT está enterrado até o pescoço e espera-se que seus novos dirigentes façam o milagre de devolver-lhe a boa fama que já perdeu.

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