A coragem dos juros

Sob o ponto de vista político, o governo, através do Copom, ao decidir aumentar novamente os juros básicos, deu uma prova de coragem. Sabiam os que decidiram pela alta que ela desagradaria a sociedade e, mesmo assim, por unanimidade, aprovaram a elevação de 0,5 ponto percentual. A Selic foi para 16,75%. Isso acontece em tempo de eleições, quando razões políticas, se efetivamente influíssem nesse tipo de decisão, aconselhariam deixar tudo do mesmo tamanho, se não fosse possível baixar ainda um pouco. Ou, na hipótese mais remota, há independência do Banco Central, sistema adotado por muitos países e defendida por muita gente no Brasil, embora rejeitada ou olhada de esguelha pela maioria dos comandantes do PT e do governo.

Afastada a hipótese de que o governo não dá a mínima para a opinião do eleitorado, ou porque admita uma derrota nas próximas eleições ou porque não ligue que isso aconteça agora, dando mais importância aos assuntos econômicos, resta tentar extrair do episódio raízes de política financeira. Aí, a coisa complica, pois duas teses se chocam. Há os que consideram que os juros devem subir quando há ameaça de uma inflação crescente e que pode sair do controle do governo. Há os que consideram que juros altos não seguram a inflação no Brasil de hoje, pois ela não é de demanda. O povo não está comprando demais num quadro de oferta limitada. O que acontece é que não está comprando porque não tem dinheiro. Mesmo que o governo alardeie que estamos em crescimento econômico, com recordes de novos empregos, inflação controlada e trabalhadores rindo de satisfação, a verdade é que o quadro de miséria continua ou até aumenta e não há dona de casa que não saia do supermercado sem se queixar dos preços. O governo já sabe e admite que as metas de inflação acertadas com o Fundo Monetário Internacional vão estourar, neste ano. E, no ano que vem, serão uma incógnita. Assim, este aumento significaria a crença do BC de que com juros altos dá para segurar a inflação.

Outra hipótese é que há o desejo de refrear a demanda porque o crescimento econômico que estaria ocorrendo, e é ruidosamente propagandeado, está esgotando a capacidade produtiva da indústria brasileira. É preciso contê-lo, não crescendo tanto para que a produção não estanque e os setores produtivos fiquem incapazes de assumir seus contratos de fornecimento.

Mas a hipótese que nos parece mais provável é que o governo, através do BC e, nele, do Copom, subiram os juros porque temem a inflação e sabem que o Brasil está carente de investimentos num mundo em que ainda há relativa liquidez de capitais. Não estamos captando o suficiente e concorremos com países que oferecem mais segurança para abrigar o dinheiro dos investidores. Não esqueçamos que este é, no mundo, um dos países mais corruptos e até mesmo o Fome Zero, bandeira que serviu para dar nome internacional a Lula, está sendo denunciado por má gestão e corrupção.

O dinheiro não estaria entrando no Brasil no volume desejado e necessário. Por isso, é preciso criar atrativos e o mais imediato e eficiente é o aumento da taxa de juros. Qualquer que seja a razão deste aumento da Selic, que não passa de um patamar de juros sobre o qual o sistema cria um mastodonte e o custo do dinheiro, ao final, fica muitas vezes maior, ele é lamentável. Ameaça nossas expectativas de retomada do desenvolvimento econômico.

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