A boa universidade

A Universidade de um país emergente tem uma função extraordinária. Criada em um contexto cultural relativamente atrasado, deve operar o milagre de superar as restrições e resistências do contexto para, modificando-o, favorecer o desenvolvimento que se objetiva com seu concurso.

Foi assim que aconteceu com a Universidade de São Paulo. Em boa hora o governador Armando Sales de Oliveira, com sugestão e apoio de amigos e colaboradores, fundou aquele centro de ensino e pesquisa. Serviu-se da prata da casa, mas trouxe excelentes professores e pesquisadores do exterior para formarem seu corpo docente. Os resultados foram magníficos. São Paulo é hoje, em grande parte, conseqüência de sua Universidade.

Foi também, em sua dimensão, o que ocorreu no Paraná pelo esforço de alguns ilustres paranaenses, criando a nossa universidade.

Essas universidades, mais do que patrocinar a formação individual de profissionais liberais, elas têm a missão de, ministrando o conhecimento, realizando a pesquisa, formando um núcleo de saber que se irradia, impulsionar o progresso dos Estados onde foram implantadas, com reflexo, naturalmente, no País.

Ouço falar de um pequeno hotel, na Ponta dos Ganchos, no município de Celso Ramos, em Santa Catarina. Dizem-me que é um paraíso. Pequenos, três estrelas, quinze bangalôs. Lugar para um merecido descanso. Toco-me para lá, num meio de semana. É mais do que me disseram. Plantado no alto da encosta de uma enseada, no meio de um terreno cuja irregularidade foi um presente para a arquiteta que projetou o hotel, ele é um “resort” que, além da tranqüilidade, do bom serviço e da gastronomia conspiratória contra o peso, oferece uma visão de paisagem deslumbrante. Do alto, em que está, do deque de seu bangalô você avista lá embaixo, nas águas azuis do mar tranqüilo, centenas de linhas paralelas. São fazendas de mexilhões e ostras que ali se cultivam.

Uma manhã vou com o oficial de praia, em um barco inflável, ver de perto uma fazenda daquelas e buscar ostras, as ostras que nos servem, na beira da praia, com limão, torrada, manteiga e um vinho branco siciliano. Tudo isso, para ressaltar o mais importante de interesse público. Aquelas fazendas são o resultado de um trabalho da universidade de Santa Catarina. A instituição tem ali o Projeto Ostra Viva que entrega aos pescadores, agora fazendeiros, as “sementes” minúsculas de ostras, geradas em seus laboratórios e doadas, aos pescadores que passam, então, cuidar delas e comercializá-las quando atingem a idade própria.

Ali está o exemplo de uma boa Universidade. Produziu uma revolução na economia da região. Disseram-me que há famílias que tiram até trinta toneladas por ano de produtos das fazendas. As novas casas, na enseada, em substituição às antigas, são a prova do que fez a Universidade e do que ela é capaz.

José Ribamar G. Ferreira

é advogado e professor aposentado da UFPR.

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