Voluntariado no Pequeno Príncipe

O tema do voluntariado vem recebendo novos significados nos últimos tempos, de tal modo que Raphael Hardy Fioravanti, antropólogo pela UFPR e consultor de Responsabilidade Social do Sesi – PR – Serviço Social da Indústria do Paraná, tornou-o tema de sua pesquisa de mestrado, defendida no final de 2006. Ele estudou o voluntariado no Hospital Pequeno Príncipe de Curitiba. Teve como objetivo a compreensão de como se estabelecem e se mantêm as relações de trocas desenvolvidas entre os voluntários e a instituição e entre os voluntários e as crianças atendidas pelo hospital.

Relata, no primeiro capítulo, a história do hospital, marcada pela criação do Instituto Pelé Pequeno Príncipe. Descreve as relações, principalmente aquelas que a presidenta da Associação Hospitalar de Proteção à Infância dr. Raul Carneiro, Dona Ety, teve com pessoas, personalidades ou políticos, que envolveram ou articularam o público e o privado.

Fioravanti me disse ter encontrado ?duas esferas da sociedade que se integram e complementam de forma complexa, ou seja, a casa e a rua. Aparentemente podemos dizer que as regras citadas por DaMatta, para a transição entre a casa e a rua, são ordenadas pela lógica das dádivas?.

O segundo capítulo é dedicado à relação que o hospital tem com os voluntários, uma relação contratual que estabelece regras e obrigações de ambos os lados. Entre os voluntários, há jovens, adultos e idosos, com diferentes graus de instrução, renda e religião e diferentes motivos que os levaram ao voluntariado.

No que se refere às crianças doentes do Pequeno Príncipe, elas formulam um sentido próprio ao mundo que as rodeia. ?A diferença entre crianças e adultos não é quantitativa, mas qualitativa; a criança não sabe menos, sabe outra coisa? (Cohn, 1995, p. 33). Para o antropólogo, a outra coisa torna-se o que é trocado com as crianças e retribuído pelas crianças,

Dentre as conclusões, Fioravanti refere que a relação Pelé/Pequeno Príncipe, assim como as histórias relatadas por dona Ety demonstram como o público e o privado não apenas se relacionam, mas também se misturam de tal maneira que não podem ser pensados como esferas antagônicas.

Ao dar ou compartilhar suas experiências com os voluntários, as crianças estariam dando uma parte de si mesmas, ?gratidão?, que é aceita pelos voluntários como ?recompensa? que vai além dos seus esforços. A dádiva aproxima as duas categorias sociais, mas também as hierarquiza, permitindo que as partes tenham nessas reciprocidades o bem-estar, sentimental e simbólico que almejam.

Zélia Maria Bonamigo é jornalista, mestre em antropologia pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná

zeliabonamigo@uol.com.br

Voltar ao topo