Visão nacionalista

Marcos Schechtman garante que fez uma espécie de ?Projacre? na Floresta Amazônica para gravar Amazônia – De Galvez a Chico Mendes. Diretor-geral da próxima minissérie da Globo, que estréia no dia 2 de janeiro, Marcos mergulhou no último século da história do Acre para visualizar a trama de Glória Perez. Após três meses ?isolado? no meio da floresta, onde montou três ?sets? em uma grande cidade cenográfica, o diretor enfrentou diversas intempéries. Em breve, Marcos volta ao Acre para gravar a terceira fase da trama, que tem 55 capítulos no total. A produção começa retratando a exploração dos seringais no período de colonização. Na segunda fase, mostra a decadência da borracha e, no período derradeiro, o líder Chico Mendes, vivido por Cássio Gabus Mendes, chama a atenção do mundo para a preservação e para o aproveitamento sustentável dos recursos naturais da floresta. ?Precisamos voltar nosso olhar para o que temos. Conhecemos pouco nossa história. Vamos mostrá-la com orgulho e com encantamento?, assegura.

P – Quais as maiores dificuldades de gravar cerca de 350 cenas durante três meses seguidos no meio da Floresta Amazônica?

R – O mais difícil é domar as condições climáticas e reger a natureza, que é impossível. Não foi fácil administrar a gravação de cenas com até 700 figurantes, em tomadas que tinham uma grande dificuldade de execução. A saída foi utilizar a lógica das águas, seguir a vontade da natureza. Gravamos primeiro todas as cenas dos barcos porque estávamos entrando num período de seca nos rios. Se demorássemos muito, as embarcações iriam encalhar. Mas foi maravilhoso, porque isso permitiu fazer com que todo o elenco tivesse um grande entendimento com a natureza, o que contribuiu muito para as cenas. Mas também tivemos imprevistos.

P – Quais?

R – Um dia estávamos gravando e, de repente, caiu uma árvore de 50 metros de altura bem perto de onde estávamos. Poderia ter matado alguém. Além disso, vários equipamentos enguiçaram. Sei que a imagem é um clichê, mas na floresta descobrimos como somos pequenos diante de tanta grandiosidade.

P – Vocês montaram uma grande cidade cenográfica na floresta em apenas um mês. Como foi essa experiência?

R – Fizemos um ?Projacre? (risos). Acredito que foi a mais imponente cidade cenográfica já feita até hoje. Diria que é uma cidade real. Ela tem três níveis de solo, três sets simultâneos funcionando na mesma gravação. E tínhamos três assistentes de direção para cada platô. Foi muito complexo operacionalizar essa engrenagem.

P – Na trama é retratado todo o glamour de Manaus durante o ciclo da borracha e a saga dos nordestinos em busca de dinheiro nos seringais. Como será exibido o contraste do luxo com a pobreza?

R – Vamos mostrar que a borracha gerou um dos maiores acúmulos de fortuna já vistos na história, apenas comparável aos marajás do Oriente. Para isso, 500 mil retirantes nordestinos paupérrimos iam atrás daquele Eldorado. Assim que chegavam, eram escravizados. Faremos o contraponto dessa luta feroz com todo o esplendor do luxo.

P – O que você ressalta na trama ao contar este trecho da história do Brasil, tão pouco difundida?

R – É impressionante como a história da Amazônia desperta mais interesse fora do Brasil. Acho que este é o momento certo para termos um olhar mais atento sobre as nossas riquezas naturais. A minissérie vai ser um mergulho no desconhecido para todos nós. Não vamos mostrar só a mata, mas a Manaus cosmopolita, glamourosa, que tinha jornais diários editados em inglês, francês e alemão, onde grandes companhias de teatro se apresentavam. Vamos assistir ao encantamento desse Brasil que os brasileiros desconhecem.

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