Vilania relativizada

Para Osmar Prado, não é tão simples definir um vilão. Escalado para viver o Barão de Araruna no remake de Sinhá Moça, a nova novela das 18h da Globo, com estréia prevista para 13 de março, o ator quer fugir dos rótulos em seu novo personagem. ?O escravagista desse período não é um vilão. Ele apenas defende um ponto de vista?, minimiza.

Pai da personagem-título da trama de Benedito Ruy Barbosa, o Coronel Ferreira, dono do título de Barão de Araruna, é um fazendeiro produtor de café que depende do trabalho escravo para manter seus negócios em funcionamento. ?O Barão é o dono daquelas terras. Ele só se preocupa com sua fazenda, com a exportação do café e com o preço do produto?, explica. O folhetim, que substitui Alma Gêmea, vai ter boa parte de suas cenas externas gravadas na cidade de Três Rios, no interior do Estado do Rio de Janeiro.

De acordo com o ator, é necessário voltar ao Brasil do Segundo Império para compreender o cenário que será reapresentado nesta releitura de Sinhá Moça, baseada na obra de Maria Dezonne Pacheco Fernandes. No ano de 1886, as discussões entre os movimentos abolicionistas e republicanos começavam a balançar os pilares da Monarquia. A Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, no Rio de Janeiro, era um pólo de concentração de filhos de nobres. Ali também surgiam movimentos culturais e manifestações públicas contra a política da época. ?O escravagismo era a base econômica de sustentação do país no período, assim como é o proletariado hoje?, compara. Por isso, Osmar credita à figura do coronel uma importância singular. Para o ator, o personagem vive em uma Monarquia abalada pela efervescência abolicionista. Neste momento, o barão vai defender seus interesses com unhas e dentes. ?O coronel não criou o escravagismo. Ele já nasceu dentro do regime?, completa.

Premiado no ano passado pela interpretação de Hitler no filme Olga, de Jayme Monjardim, Osmar está animado com o novo papel em Sinhá Moça. Na pele do barão, o ator pretende comover o telespectador. ?Quero que os brasileiros reflitam sobre sua própria realidade?, empolga-se. Acostumado a viver personagens marcantes, o artista quer fazer do barão uma figura de destaque na novela. ?Ele é o antagonista. Para mim, esses são os grandes personagens das tramas?, aposta. Para representar o fazendeiro, o ator conta que foi preciso identificar as questões mais particulares do personagem. ?Quando você analisa o cangaço, o revolucionário, o ditador, você precisa conhecer seus pontos de vista para entender sua existência?, filosofa.

A história de Benedito Ruy Barbosa, adaptada pelas filhas Edilene e Edmara Barbosa, se passa na fictícia cidade de Araruna, no interior de São Paulo. Em 1886, dois anos antes da promulgação da Lei Áurea, a filha do Barão de Araruna, papel que caberá a Débora Falabella, vai estudar na capital da província e se apaixona por Rodolfo, de Danton Mello, jovem que defende os ideais republicanos e abolicionistas.

?A jovem, conseqüentemente, vai respirar os ares abolicionistas?, adianta o ator. Ao mesmo tempo em que o romance entre os dois se desenrola, um filho bastardo do barão com uma de suas escravas volta à cena para vingar-se do pai, que nunca o aceitou como herdeiro por motivos estritamente preconceituosos. Um ponto destacado por Osmar é a abordagem que Sinhá Moça fará em relação à questão da reforma agrária no Brasil. ?Embora o roteiro seja novelístico e romântico, o assunto está no centro das discussões atuais?, avalia.

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