Vendo a vida pela lente do humor

tv41.jpgAté pouco tempo, a informática era um bicho-de-sete- cabeças para Arlete Salles. A atriz não sentava ao computador nem para jogar paciência. Quanto mais para mandar e-mails ou ?navegar? pela rede. Mas, quando soube que a Ademilde, de A Lua Me Disse, procurava namorados pela internet, aceitou ser apresentada a esse ?ilustre desconhecido?: o computador. Protegida pelo codinome de sua cachorra Kika, resolveu participar de inúmeras salas virtuais de bate-papo. ?Fiquei espantada quando me contaram que existem pessoas ali que passam as noites em claro à procura do companheiro ideal. Pessoalmente, ainda prefiro o método antigo, do olho no olho…?, brinca.

Aos 62 anos, Arlete está de volta aos papéis cômicos depois de interpretar duas vilãs na tevê: a Zenilda Paixão, de Sabor da Paixão, e a Augusta Eugênia, de Porto dos Milagres. Embora garanta que não faça distinção de gênero, admite que os tipos mais engraçados, como a Kika Jordão, de Lua Cheia de Amor, e a Francisquinha, de Pedra Sobre Pedra, são sempre os que tocam mais profundamente o coração do público. ?Claro que os pequenos dramas do cotidiano me atingem como atingem a todo mundo. Mas, se você tiver o coração e a alma sempre abertos, vai conseguir se levantar, seguir em frente e, quem sabe, amanhã ou depois, rir dos próprios infortúnios?, filosofa.

 Muito da vivacidade de Arlete Salles se deve ao fato de estar trabalhando, pela sexta vez, com Miguel Falabella. Juntos, já fizeram uma novela, Salsa & Merengue, e quatro peças, A Partilha, Todo Mundo Sabe que Todo Mundo Sabe, A Vida Passa e Veneza. ?O Miguel foi um grande presente que a vida me deu?, derrama-se. O próximo projeto da dupla deve ser Polaróides Urbanas, versão em película de Miguel Falabella para a peça Como Encher Um Biquíni Selvagem, de sua própria autoria. ?Até pensei em adaptar um Bernard Shaw quando a novela acabasse, mas o Miguel já quer começar a rodar em outubro. Meu Deus do céu, esse homem não sossega nunca…?, graceja.

P – Para fazer a novela, você teve de ser ?apresentada? ao computador. Já se considera uma especialista no assunto?

R – Ah, de jeito nenhum… (risos), Jamais chegarei lá. Não tenho qualquer intimidade com computadores e desconfio de que jamais venha a ter. Mas, como na história a Ademilde procura namorados pela internet, eu tinha de saber como essa coisa funciona, não é mesmo? Para que ninguém desconfiasse da minha identidade, usei o nome da minha cadela. Mesmo assim, prometo que, assim que terminar a novela, eu vou me informatizar, comprar meu micro, mandar uns e-mails… Imagina, daqui a pouco, escrever cartas vai virar uma heresia… (risos). Enfim, para evitar que isso aconteça, vou virar uma internauta…

P –  Mas, a exemplo da Ademilde, você seria capaz de sair à procura de um namorado na internet?

R – Nem pensar… Garanto que não vou ficar na sala de bate-papo procurando namorado às oito da manhã. Isso, definitivamente, não combina comigo. Mas não tenho nada contra quem faça. Aliás, até já ouvi falar de alguns encontros bem-sucedidos nesse sentido. Mas, modéstia à parte, já vivo um encontro muito bem-sucedido… (risos). Brincadeiras à parte, nada substitui o olho no olho, entende? Você olha para a pessoa e gosta dela ou não. Como isso pode acontecer diante de um teclado de computador? Sinceramente, não sei responder. Mas acontece, né? O amor não tem regras…

P – Quando você descobriu sua vocação para a comédia?

R – Não descobri. Descobriram para mim. Quando vi, minha carreira já estava ficando marcada pelo toque da comédia, tanto na tevê quanto no teatro. Mas, fora os personagens que interpreto, também me considero uma pessoa bem-humorada.A vida sem humor torna-se insuportável. Gosto do riso. Desconfio, aliás, que o riso seja o som favorito de Deus. Mas gosto de encarar a vida com esperança, de ver o que a vida tem de melhor… Mesmo que os dias sejam difíceis, se a sua alma e o seu coração estiverem abertos, você vai ser capaz de se levantar, seguir adiante e, quem sabe, amanhã ou depois, ainda dar uma gargalhada dos infortúnios que enfrentou. O humor é a grande bússola da vida. Não tenha dúvidas disso…

Estilo transgressor marca os amores

Um dos traços marcantes da personalidade de Arlete Salles é a postura transgressora. Arretada, ela reconhece que não gosta das coisas ?muito certinhas?, principalmente no campo afetivo. ?Sempre acabo contrariando as convenções?, admite. De fato, Arlete só tinha 16 anos quando casou-se grávida do então namorado, o ator Lúcio Mauro. Com ele, foi casada por 15 anos e teve dois filhos, Alexandre e Gilberto, hoje com 44 e 35 anos, respectivamente. ?Não dá para agir igual a todo mundo. Mesmo porque somos todos diferentes. Podemos até ser parecidos, mas nunca iguais…?, frisa.

 Atualmente, Arlete Salles mora com a mãe, Severina, de 84 anos, o caçula e duas cachorras, Kika e Akira, numa confortável casa de três andares no Jardim Botânico, zona sul do Rio. Discreta em relação ao seu novo namorado, o professor de dança Álvaro Reis, 26 anos mais jovem, Arlete é adepta do lema ?cada um na sua?. ?Meu companheiro é sempre bem-vindo: mas eu na minha casa e ele, na dele. A convivência atrapalha o romantismo?, acredita a atriz, dando por encerrado o assunto.

 Para manter a disposição, a atriz não abre mão de seguir uma alimentação moderada e, principalmente, de praticar exercícios diários, como aeróbica e musculação. Quando sobra tempo nas gravações de A Lua Me Disse, arrisca também umas caminhadas pela Lagoa Rodrigo de Freitas. ?Não gosto de ficar muito tempo parada. Sinto como se estivesse desperdiçando tempo e vida?, justifica. Em nome da vaidade, Arlete já colocou até silicone nos seios e aplicou botox no rosto. ?Para ficar bonita, a gente toma até injeção na testa. Literalmente!?, graceja ela.

Talento versátil vindo de Pau D?Alho

 A atriz Arlete Salles nasceu na pequena Pau D?Alho, em pleno sertão pernambucano, mas, ainda criança, foi morar com a família no Recife. Na capital, então com 15 anos, soube que uma rádio local estava recrutando atores e resolveu pleitear uma vaga. Reprovada como atriz, não desanimou. Devido à voz grave, arranjou emprego como locutora. Pouco depois, ainda no Recife, estreava no teatro, na peça A Cegonha se Diverte. Logo, ganhou o prêmio de revelação feminina. Na tevê,  estreou em Sangue e Areia, a primeira novela da Globo no horário das oito. ?Sempre cito a Carmosina, a Kika Jordão e a Augusta Eugênia como as minhas favoritas. Mas, da próxima vez que me fizerem essa pergunta, incluirei a Ademilde na lista?, avisa.

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