Um novo Superman vem aí. Outra vez

Embora continue sendo o super-herói mais poderoso do universo quadrinizado, ninguém morreu, mudou, desapareceu e reapareceu mais do que Super-Homem, o simpático nativo do planeta Krypton que chegou à Terra para defender os terráqueos dos males deste mundo.

Com uma carreira de 65 anos, Superman (como passou a ser também denominado no Brasil depois de assumido pela PaniniComics) já teve a sua história contada, recontada e modificada dezenas de vezes (e, ao que parece, ainda terá outro tanto), sempre que as condições econômicas recomendam, ou seja, quando a popularidade do herói começa a cair, reduzindo a vendagem das várias publicações a ele dedicadas.

Morte salvadora

A última “morte” ocorreu há dez anos (onze, para ser mais exato), quando o Homem de Aço atravessava um dos períodos mais negros de sua longa carreira, editorialmente falando. As vendas do títulos do super-herói despencaram de maneira alarmante nos EUA, apesar de ele continuar sendo um dos maiores ícones dos quadrinhos de todos os tempos.

A solução idealizada pelos editores de então, liderados por Mike Carlin, foi – claro – matar aquele que nasceu para ser “O Maior Herói de Todos Tempos”. E a velha fórmula foi tirada, uma vez mais, dos arquivos da DC Comics: um novo terrível vilão colocaria em risco toda a humanidade e somente uma pessoa seria capaz de detê-lo – Superman -, ainda que isso lhe custasse a própria vida. O resultado foi um enorme sucesso, com as vendas superando todas as expectativas.

No Brasil, não foi diferente. A Editora Abril, então detentora dos direitos sobre as aventuras do personagem, preparou uma campanha especial para o lançamento da edição de 160 páginas (depois republicada em três edições, no formato americano) que reunia toda a saga. O pacote de ofertas reunia ainda um pôster do enterro do herói e um jornal fictício com as repercussões do evento. E gente que nunca havia sequer comprado um gibi na vida chegou a fazer fila nos jornaleiros.

Dez anos depois

No final do ano passado, com a desculpa oficial de assinalar o 10.º aniversário daquele acontecimento, os editores decidiram dar mais uma “espremida” no tema e ganhar mais alguns “trocados”, como bem registrou, na ocasião, o analista Érico Borgo, do site Omelete. E a mini-série Superman – Dia do Juízo Final (Day of Doom, no original), em quatro partes, chegou às bancas no início de 2003 (no Brasil, saiu em agosto/outubro, pela Panini), embora os editores (daqui e dos EUA) insistissem que não se tratava de um flashback ou de nova versão dos fatos que culminaram com a morte e retorno do Super-Homem, mas sim a narrativa de como tais eventos alteraram a percepção do Homem de Aço pela população de Metrópolis. As edições valeram pelo roteiro e desenhos de Dan Jurgens e arte-final de Bill Sienkiewicz.

Super-herói n.º 1

Super-Homem foi criado pela dupla Jerome (Jerry) Siegel e Joseph (Joe) Shurter, dois jovem idealistas, em 1938, em plena Grande Depressão, para ser o imbatível salvador do mundo, campeão da verdade e da justiça, isto é, um super-herói, o primeiro do mundo dos quadrinhos, capaz de corresponder às mais elevadas aspirações do ser humano. Ainda que este ser humano falasse em inglês e habitasse o continente (norte-)americano. Para tanto, ganhou um uniforme azul e vermelho, com detalhes em amarelo, ou seja, as cores da bandeira dos EUA.

A primeira reinvenção do personagem foi executada por John Byrne, nos anos 80, que, além de recontar a história inicial do herói, transformou-o em um ser de poderes reduzidos, “espiritualmente destruído e fisicamente ineficaz, num contexto existencialista, relativista e hobbesiano, onde não havia certo nem errado e os indivíduos viviam em estado de guerra constante uns contra os outros” – como frisou o articulista Marcus Vinícius de Medeiros.

Sobre essa época, diria o roteirista Mark Waid, que recolocou Superman no caminho original: “Foi uma idéia tão ruim que nunca deveria ter acontecido. Superman com o qual me importo, escrevo e projeto nunca matou e jamais matará outro ser inteligente só porque outro escritor pensou que isso seria legal ou venderia bem”.

Fase elétrica

Ainda assim, o herói amargou outras fases “caça-níqueis”, quase todas profundamente lamentáveis. Nelas, entre outras “façanhas”, tornou-se cabeludo, perdeu os poderes, foi condenado ao exílio, virou cyborg, depois hippie, enegreceu o emblema do peito e escureceu o uniforme, ganhou um clone vermelho e passou uma temperada dando choque. Esta última foi de doer. Salvou-o a velha invulnerabilidade, pois aquilo que a kryptonita não conseguiu fazer, um bando de editores malucos quase consegue.

A situação foi bem resumida pelo jornalista Sérgio Augusto, primeiro crítico de gibis do Brasil: “Com seu new look chocante, Super-Homem se tornou mais apto para desfilar numa escola de samba do Joãosinho Trinta ou no Gala Gay do que para lutar contra Lex Luthor e outros gênios do mal. O guardião de Metrópolis, que já foi mais rápido que uma bala e mais poderoso que uma locomotiva, acabou mais bichoso que Fred Mercury”.

Superman 2004

Eis que novo dezembro chega e, com ele, o exemplar de n.º 200 da revista Superman (edição norte-americana). Nele, segundo se anuncia, o terreno começará a ser aplainado para nova reformulação da criação original de Jerry Siegel e Joe Shuster, posto que, até o mês de abril de 2004, um novo Super-Homem virá à luz, através do trabalho de Brian Azzarello, Jim Lee, Greg Rucka, Matthew Clark, Chuck Austen e Ivan Reis.

Antes do novo começo, precisamos concluir muitas das histórias ainda em desenvolvimento – avisa o editor Eddie Berganza, acrescentando: “A edição de dezembro dará um final para a trama construída pela equipe anterior -Jeph Loeb, Joe Kelly e Steve Seagle”.

Superman 200 trará também o destino final de Metrópolis e possíveis futuras origens de Batman, Mulher-Maravilha e Flash, além de Super-Homem. Outra surpresa será a aparição de “nova” Supergirl (Cir-El).

O que virá depois, só Deus sabe. Quer dizer, os chefões da DC Comics. É possível adiantar, porém, que em janeiro de 2004 Metrópolis será uma cidade sem Superman.

Este será um desafio para os cidadãos de Metrópolis e para os demais heróis. Mas é também certo que um novo visitante chega para assumir o lugar do homem de aço – revela Eddie Berganza.

Outra novidade será a participação do artista brasileiro Ivan Reis, que já recebeu o roteiro de Chuck Austen, onde é reintroduzida a figura de Lana Lang nos títulos de Superman, e mostrada a paixão adolecente de Clark Kent em conversa com a mãe do jovem, Martha.

O grande Jim Lee

A atração maior, no entanto, deverá ser a presença do desenhista Jim Lee, um dos mais festejados artistas de comics da atualidade, na nova vida de Super-Homem. (No momento, ele faz sucesso com uma série de Batman, que está sendo publicada no Brasil pela Panini.)

Eu e Brian Azzarello sempre quisemos trabalhar juntos – conta Lee, explicando: “Quando o Superman entrou no nosso caminho, conversamos sobre fazer algo de novo com o personagem. Algo até mais desafiador do que com o Batman. O meu projeto é fazer 12 números seguidos, sem perder nenhum”.

Prossegue: “Por enquanto, estou brincando um pouco com o herói, visualmente falando. As pessoas sempre pensam nele como a luz e em Batman como as trevas. Mas realmente precisa ser sempre assim? Por que não colocar mais sombras no Super? Eu acho que ele é diferente do Batman e deve ser assim, mas nada impede que acabe parecido. É importante passar por esses exercícios”.

Para tanto, Jim Lee avisa que a abordagem do personagem será diferente. Azzarello deverá fazer, também, histórias mais adultas. Entre elas, Lex Luthor: homem de aço, minissérie com lançamento previsto para junho de 2004, nos EUA.

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