Um estranho no ninho

Assim que iniciou carreira no cinema, Luiz Carlos Vasconcelos começou a ser chamado para fazer novela. Só agora, após sete anos, o ator paraibano, conhecido pela atuação em longas de sucesso como Eu Tu Eles e Carandiru, sucumbiu a um convite. Em Senhora do Destino, a próxima novela das oito da Globo, ele vai viver Sebastião, motorista da poderosa dona de jornal Josefa de Magalhães, personagem de Marília Gabriela, por quem nutre uma forte paixão. Luiz, no entanto, deixa claro que pretende que esta seja sua primeira e última novela.

Na verdade, ele nem caracteriza este trabalho como tal. Luiz só aceitou participar porque atua apenas na primeira fase da trama, mais precisamente nos primeiros quatro capítulos. Ou seja, é como se estivesse participando de uma obra fechada. A resistência em fazer novela é justamente o fato de a opinião do público poder interferir no andamento da trama. “Acho isso um perigo, um desrespeito. Não estou a fim de participar de uma coisa onde o critério principal é a audiência, é contra tudo o que eu acredito. Enquanto puder ser fiel a mim, vou ser”, enfatiza, cheio de radicalismo e convicção.

Muitos outros fatores, além da curta participação, motivam Luiz nesse trabalho. O tratamento dado às cenas, segundo ele, é próximo ao de cinema, ser uma trama de época – a primeira fase se passa em 1968 e retrata, principalmente, aspectos da ditadura, – e interpretar o personagem que vai ser feito por Nelson Xavier, ator que sempre admirou, após a passagem de tempo. “Ainda peguei várias coisas de lambuja, como o fato de ser a primeira novela da Marília Gabriela, que deve gerar curiosidade”, acredita. Mesmo tendo feito apenas uma participação na tevê – atuou na microssérie Pastores da Noite, exibida em 2002 -, Luiz não está tendo dificuldades com a linguagem. “Não sinto diferença do cinema. As cenas estão sendo gravadas com calma, o que vai mudar quando a novela estrear. Mas graças a Deus não estarei mais, vivo só a fase de ouro”, repete o discurso.

Nordestino

Outro bônus da novela de Aguinaldo Silva para Luiz é que a trama fala sobre nordestinos que obtêm sucesso após migrar para a cidade grande. A trajetória do ator é parecida, se não fosse um detalhe. Em 1984 ele deixou João Pessoa para morar no Rio de Janeiro atrás de maiores possibilidades na carreira. “Vivi tudo o que podia viver. Passei fome e fiz figuração em novela, enquanto integrava a Intrépida Trupe”, relembra. O sucesso da temporada da peça Vau da Sarapalha, inspirada no conto Sarapalha, de Guimarães Rosa, que está em cartaz há 12 anos, o fez voltar para João Pessoa. Lá, em uma apresentação da peça, ele foi “descoberto” pelos diretores Paulo Caldas e Lírio Ferreira, do filme Baile Perfumado, que deu início a sua carreira no cinema em 1997.

Logo após se destacar na pele de Lampião, o protagonista da história, Luiz atuou em O Primeiro Dia, de Walter Salles, ao lado de Fernanda Torres e Matheus Nachtergaele. Dois anos depois, viveu um dos três maridos da personagem de Regina Casé em Eu Tu Eles, de Andrucha Waddington, que deixou sua imagem mais reconhecível pelo público. Em seguida veio Abril Despedaçado, também de Walter Salles, e, por último, Carandiru, de Hector Babenco, enorme sucesso de bilheteria em que interpretou o médico Dráuzio Varella. “Quando baixei o facho de tentar ser famoso é que as coisas começaram a acontecer. Foi uma lição profunda para mim”, filosofa o ator de inaparentes 49 anos, que voltou a morar no Rio em 1999 e está novamente se preparando para voltar a viver em João Pessoa. Ele quer se dedicar melhor à Escola de Atores Piollin, da qual é um dos fundadores.

Como não faz trabalhos longos por aqui, a mudança provavelmente não vai dificultar a vida de Luiz. Entre seus próximos projetos, estão dois filmes – um deve começar a rodar no segundo semestre e o outro no ano que vem. Apesar das propostas no cinema, Luiz está concentrando força total no teatro. Quer estrear temporada no Rio da peça Portinari, a Obra, em que atua na direção. “Estou trabalhando em cima de modificações no formato. Sou apaixonado por esse projeto”, conta, repleto de entusiasmo.

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