Tudo errado

Não existe televisão sem tecnologia. A recém-nascida JBTV tenta provar o contrário. Sem sucesso. Tem péssima qualidade de som e de imagem, com constantes quebras de áudio, falta de sincronia e uma iluminação precária, incapaz de criar volume e definição nas pessoas e nos objetos, além de projetar nos cenários sombras dignas de um filme expressionista alemão. O Telejornal do Brasil, principal atração da emissora, capitaneada pelo apresentador Boris Casoy, ultrapassa os limites do jornalismo e adentra na comédia involuntária.

Em plena era da interatividade, da rede mundial de computadores e da tevê digital, Casoy apresenta um programa radiofônico com imagem. Detrás da tradicional bancada, o âncora narra as notícias sem qualquer cobertura visual, o que revela a ausência de material de arquivo da emissora e a falta de investimento em novas reportagens. O jornal carece até de ?slides? com retratos de personalidades e de gráficos com taxas, índices ou percentuais. No lugar de trazer mais informações, uma tela à direita do apresentador exibe a solitária logomarca da emissora. Nada que uma pesquisa em arquivos e videotecas não conseguisse superar.

A falta de ?videotapes? também constrange o Loucos por Bola, esportivo da emissora produzido com a mesma equipe do programa de rádio Rock Bola, que mistura humor com comentários sobre jogos de futebol e outros esportes. Caçula das tediosas resenhas esportivas, gênero de programa que prima pela verborragia, comentários inócuos e absoluta falta de objetividade, o Loucos por Bola consegue a obra-prima de ir ao ar sem exibir um único ?vt? de futebol. Não há um gol sequer.

Já a novela Coração navegador, produção luso-brasileira com Ingra Liberato, Maria João Bastos, Paulo Pires e Ana Bustorf, repete e aprofunda os defeitos da emissora. O som chega a ser inaudível em muitas passagens, o que torna difícil perceber a sonoplastia e a trilha sonora. A iluminação é soturna, dentro da mesma estética lúgubre que marca a tevê, e a edição é tão arrastada que vai ser difícil acompanhar seus prometidos 60 capítulos. Garotas, a outra obra dramatúrgica exibida pela JBTV, aborda a vida em comum de quatro garotas moradoras do mesmo apartamento. A ?novelinha? apresenta idênticos problemas em pontos de luz e em câmeras de outros programas da emissora, além de carecer de um roteiro com algo a mais do que lições de conduta para a juventude. O tom é de tal didatismo e tão moralista que chega a parecer singelo. Ser jovem nem sempre é ser novo.

Falta de equipamentos de gravação, de geração e de transmissão, equipe reduzida e ausência de um conceito na programação além da idéia de custo zero caracterizam a mais nova ?rede? de tevê do país. Não chega a ser muito diferente de outras emissoras que chegaram ao ar na base do improviso, em décadas passadas. Mas hoje a oferta de canais, especialmente com a tevê a cabo, é muito maior. Falta muito para a JBTV chegar a ser uma opção.

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