Tropa de elite

Em Paraíso tropical, a melhor arma que Gilberto Braga tem nas mãos é o elenco. A novela está repleta de atores de peso, que defendem bem alguns bons personagens criados pelo autor. As tramas paralelas compensam as cenas insossas do casal de protagonistas Paula e Daniel, de Alessandra Negrini e Fábio Assunção. A mocinha, definitivamente, é a figura mais chata da novela. E quando se junta ao galã, a situação piora. Os dois, no entanto, não impedem que o folhetim tenha vigor já que, em outros núcleos, histórias se desenvolvem e fazem a novela caminhar com energia mesmo depois de quatro meses no ar.

Gilberto foi sábio quando confiou em Camila Pitanga para o papel de Bebel. A atriz é a maior responsável por segurar a trama que já ultrapassou 50 pontos de audiência em determinados dias e mantém 43 de média, com 62% de participação. Na época do lançamento da novela, o autor não escondeu de ninguém que achava Camila ?princesinha demais? para encarnar uma garota de programa. E ela convenceu não só o criador da história. Em pesquisas recentes, Bebel e Olavo aparecem como os responsáveis pelos melhores momentos da história. Wagner Moura, o mau-caráter Olavo, e a atriz estão cada vez mais à vontade nas cenas ousadas, engraçadas e sempre naturais. Mas não são os únicos.

Tony Ramos está bem desde o começo e agora ainda tem a tabelinha com Glória Pires, a Lúcia, que finalmente apareceu no folhetim. Como não poderia ser diferente, a atriz ?rouba a cena? e traz uma verdadeira renovação para Paraíso tropical. Além disso, o drama de sua personagem é convincente e ainda deve gerar inúmeras situações até o fim da novela. O mesmo acontece com os papéis de Daniel Dantas e Beth Goulart, o Heitor e a Neli; Marco Ricca e Isabela Garcia, o Gustavo e a Dinorá. Os conflitos destes casais dão e ainda podem dar bastante oxigênio à novela. O retorno dos personagens Ana Luísa e Lucas, interpretados por Renée de Vielmond e Rodrigo Veronese, reforça a tese de que são os coadjuvantes que esquentam a novela. A popularidade do casal foi tamanha que, ao contrário do que estava previsto, os atores voltaram para a novela e seus personagens devem iniciar um processo de adoção de uma criança.

São trunfos como esses que amenizam alguns escorregões cometidos pelos autores e pela direção da novela. Recentemente, as cenas em que a vilã Taís armou o sumiço de Paula, gravadas dentro d?água, reiteraram a precariedade dos efeitos especiais do folhetim. Muitos diálogos também são dispensáveis, ingênuos e até politicamente corretos demais. Como aconteceu há pouco tempo, com uma conversa de Fred, de Paulo Vilhena. Ao conversar sobre a prática do mergulho com outros personagens, falou sobre a famosa barreira de corais da Austrália e emendou a frase: ?Preciso fazer essa viagem logo, antes que os corais sejam destruídos devido ao aquecimento global?. Lembrou o típico discurso didático de Malhação. São tropeços que incomodam, mas não fazem Paraíso tropical deixar de ser atraente.

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