Tonico, o operário padrão

O ator Tonico Pereira não tem medo de trabalho. Aliás, nunca teve. Desde os oito anos, pega pesado no batente. Já foi vendedor de laranjas, dono de peixaria e gerente de banco. Mas foi como ator que Antônio Carlos de Souza Pereira se realizou profissionalmente. Atualmente, ele se desdobra entre as gravações de “Desejos de Mulher” e “A Grande Família”. “Me sinto bem quando estou trabalhando porque trabalho é fundamental para o ser humano. Ter trabalho é ter dignidade”, sentencia.

Na novela das sete, Tonico interpreta o impoluto detetive Kléber, encarregado das investigações policiais da trama de Euclydes Marinho. Já na série, ao contrário, ele dá vida ao fanfarrão Mendonça, chefe de repartição do incorruptível Lineu, papel de Marcos Nanini. Interpretar personagens tipicamente brasileiros, como Kléber e Mendonça, já se tornou recorrente na carreira deste campista de 53 anos. “Nunca fui de assistir às novelas que faço. Sei o que está acontecendo com os meus personagens e só”, frisa.

A carreira profissional, no entanto, nunca representou estabilidade financeira para Tonico Pereira. Desconfiado com os reveses da profissão, ele comprou duas lojas de autopeças, que administra pessoalmente. Entre um compromisso e outro, aceitou o convite da governadora do Rio, Benedita da Silva, para assumir o cargo de diretor de eventos especiais da Funarj. “O Garotinho deixou os cofres completamente vazios. Mesmo assim, quero levar esse negócio adiante. Idéia é o que não falta…”, garante.

P

– Você já viveu os mais variados tipos, como pescador, índio e dono de botequim. Você obedece a algum critério de seleção ou faz aquilo que mandam fazer?

R

– Eu não escolho papéis. São os papéis que me escolhem. Na Globo, sou pau-mandado mesmo. Faço aquilo que o pessoal manda fazer. No cinema, também nunca li um roteiro. Só lia as falas do meu personagem. O único que li foi o do filme “O Cego que Gritava Luz”. E, mesmo assim, porque eu fazia o protagonista. Na tevê, é a mesma coisa. Só não faço determinado trabalho quando estou mal. Se estiver bem de saúde, faço sem o menor problema.

P

– De uns tempos para cá, você se tornou presença obrigatória em produções do Guel Arraes, como “Luna Caliente”, “A Invenção do Brasil” e “A Grande Família”. Você não acha que passou a ser mais valorizado dentro da emissora?

R

– Olha, eu sou funcionário da Globo. Sou uma espécie de mercadoria barata que a emissora usa e abusa da melhor maneira possível. Sempre me senti mal-aproveitado dentro da casa. Eu me considero um bom ator, mas não acho que eles me dêem o devido valor. Paciência. Como sou pago para fazer o que eles mandam, eu faço…

P

– Quando você pensou em se tornar ator?

R

– Nunca pensei em ser ator. Pensei, sim, em ser advogado ou economista. Você sabia que eu fiz Ciências Contábeis? Pois é. A carreira de ator foi um acidente na minha vida. Sou filho de salário mínimo. Se não trabalhasse, não teria o que comer. As dificuldades da vida me levaram a fazer teatro. Quando vi, já estava ganhando um dinheirinho. Mas já trabalhei em tudo que você imaginar. Se o trabalho for honesto, “tô” dentro.

P

– Você estreou em “O Espigão”, de Dias Gomes, em 74. Qual é o seu personagem favorito?

R

– Ah, não me peça para escolher o personagem favorito. Personagens são que nem filhos. Enquanto eles não nos traem, gosto muito deles. Graças a Deus, nunca fui traído. Nem por filhos, nem por personagens. Mas, sem dúvida, o personagem de maior sucesso foi o Zé Carneiro. Graças a ele, fiquei conhecido em todo o Brasil.

P

– E por falar no Zé Carneiro, o que você achou da nova versão do “Sítio do Pica-pau Amarelo”?

R

– Se eu disser que ainda não vi nenhum episódio do novo “Sítio”, você acredita? Ou melhor, só vi um dia. E achei tudo muito diferente. Não vi o suficiente para fazer qualquer análise. Mas, pelo pouco que vi, achei que o “Sítio” que eu fazia era bem melhor.

Voltar ao topo