Temporada brasileira da mostra ?Fluxus? começa no Museu Oscar Niemeyer

Curitiba é o ponto de partida da temporada brasileira ?Fluxus na Alemanha 1962-1994 ? Uma longa história com muitos nós? que abre nesta quarta-feira (19), às 19h, para jornalistas e convidados no Museu Oscar Niemeyer. A exposição apresenta parte das obras e registros documentais produzidos por artistas fluxistas de 1962 até 1994. Depois de Curitiba, a mostra segue para São Paulo, Buenos Aires e retorna para a Europa.

A seleção das obras, cerca de 300, foi feita pela curadora alemã Gabriele Knapstein e organizada pelo Instituto de Relações Culturais com o Exterior da Alemanha (Ifa). A exposição é resultante da parceria entre o Museu Oscar Niemeyer e o Goethe- Institut/Curitiba. Os alemães Joseph Beuys (artista plástico), Henning Christiansen (pintor e músico); Wolf Vostell (artista plástico) John Cage (músico americano); George Maciunas (músico lituanês); Nam June Paik e Takako Saito, os mais conhecidos representantes de origem oriental do movimento, estão entre os principais ícones do Fluxus.

Obras

Ao lado outros importantes artistas, eles realizaram uma produção cujas obras inusitadas agregam música, artes plásticas, vídeo-instalações e performances. A mostra exibe tanto trabalhos originais de artistas do Fluxus como de seus amigos. Paralelamente a apresentação de impressos e arquivo fotográfico que documenta os mais importantes concertos, o público poderá apreciar uma documentação cinematográfica rara e ouvir diversos exemplos sonoros de músicas fluxistas.

O material inclui ainda cartazes, catálogos de exposições, partituras, revistas e filmes ?como ?Flux-Filme?, de George Maciunas ?, que registram projetos, concertos, festivais, performances e happenings dos artistas. Além de peças radiofônicas obtidas pelo trabalho conjunto com a emissora de rádio alemã, Westdeutscher Rundfunk (WDR), que produziu as obras.

O farto material sonoro justifica-se pela marcante presença da música experimental nas raízes do movimento. Fator que indica a origem e os rumos dessa manifestação artística. Os concertos performáticos ?abertos a intervenções da platéia ?aconteciam sem programas fixados, local e horário.

Muitas das ?partituras? foram elevadas a obras de arte. Um dos exemplos, entre dezenas deles, é ?Solo para violino?, de Nam June Paik, que mostra apenas a silhueta de um violino desenhado a caneta na pauta musical. Ou ainda a obra ?Mozart Mix?, de John Cage, construída em uma maleta de madeira que comporta, entre outros objetos, quatro toca-fitas, fitas com músicas e a inscrição ?Music withOut horiZon soundscApe that neveR sTops?.

Outras produções são limpas, simples, além daquelas que parecem enigmas ou algum tipo de estudo a ser decifrado. Um exemplo é a obra ?Schreibmaschinengedicht? (?Poema para máquina de escrever?), de Tomas Schmit. Ao ?leitor? resta apenas uma alternativa: para ler o poema só decifrando os números inscritos ?referentes às respectivas letras das palavras ? no teclado desenhado.

Obras como essas criaram um universo, um movimento tão amplo e inominável que classificar as diversas manifestações artísticas de fluxistas é quase uma tarefa impossível.

Indefinição

?O movimento é de difícil definição. Fluxus não é um movimento estático, é flutuante, versátil. Os artistas fluxistas trabalham a interdisciplinaridade. O Fluxus é contra as instituições e se opõe aos ideais burgueses de arte. É contra o quadrado e acontece fora dos museus e espaços pré-definidos?, afirma Claudia Römmelt Jahnel, diretora do Goethe-Institut /Curitiba e responsável pela organização da mostra em Curitiba.

Segundo a crítica de arte alemã Ursula Zeller, apresentar Fluxus em uma exposição é uma das tarefas mais difíceis no âmbito da mediação da arte para o público. ?A base e a intenção deste movimento artístico é constituída por um paradoxo indissolúvel. Antes de mais nada, Fluxus se define como o não-intencionado e não como um posicionamento ou uma afirmação positiva. Fluxus é um evento que ocorre espontaneamente num preciso momento e aceita sua própria efemeridade.?

Ursula diz que Fluxus só pode ser transmitido através de sua ?própria contradição constitutiva?, como documentação através de fotografias, ensaios, objetos ? relíquias, múltiples e publicações. Ela complementa: ?A ponte para o nosso tempo pode ser construída com obras de artistas do Fluxus que estão criando na contemporaneidade, porém com o espírito daquela época.? O Ifa, que responde pela organização da exposição, incluiu essas obras na exposição.

Apesar da dificuldade de definição, algumas das obras fluxistas remetem aos ready-mades de Duchamp. ?As primeiras atividades do Fluxus ocorreram no início dos anos 60. Este período significou uma mudança de paradigma para as artes plásticas na Europa e nos Estados Unidos. O vasto campo do multifacetário movimento contra a arte, seguindo as idéias de Marcel Duchamp -Neo-Dada em Nova Iorque, Zero em Düsseldorf? permitiu uma pesquisa livre da realidade, questionando o significado tradicional da mídia artística?, analisa a crítica.

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