Somos nós que fazemos a vida linda

"Envelhecer exige ciência e consciência. Já saber envelhecer, é uma arte." (João Manuel Simões, 2004, p. 14)

Desde garoto aprecio a arte. Tentei algumas vezes aprender a tocar instrumentos musicais, fazer pintura em telas ou recuperar algo que estava jogado, mas não consegui. O ritmo dinâmico do dia-a-dia muitas vezes não oferece as oportunidades. Creio que na velhice serão possíveis. É importante sonhar, acreditar e se preparar para este momento que, sem dúvida, é um dos momentos mais lindos da vida.

Natural de Ouro-SC, de 21 de janeiro de 1928, Alduino Bonamigo é o exemplo de quem conseguiu com habilidade desenvolver o dom da arte. Embora sempre tenha se aplicado à leitura e goste de conversar sobre os mais variados assuntos, nunca participou de uma escola de preparação artística.

Homem do campo, enquanto trabalhava refletia sobre a riqueza que existia ao seu redor: a natureza. Alduino narra que a partir dos 57 anos juntava as pedras que encontrava no caminho. Depois eram lavadas, recebiam pintinhas e pareciam bichinhos.

Foi desenvolvendo no seu interior a idéia de que com aquelas pedras seria possível produzir algo exótico. Foi tentando, fazendo e refazendo. Quando se aposentou sobrou mais tempo para se dedicar aos seus anseios artísticos. Recentemente arrendou suas terras e melhorou mais seu desempenho.

Hoje sua arte chama a atenção de inúmeras pessoas. Em sua residência, na Colônia Novo Porto Alegre, em Ouro, recebe visitas de estudantes, crianças, grupos de jovens e de idosos que ficam admirados com seu talento. Ele dá vida, cria personagens que só faltam falar. Além das pedras, faz uso de madeiras, fios, cimento e massa.

Como se não bastasse, Alduino aprendeu por si a tocar alguns instrumentos: teclado, violão, violino, cavaquinho e harpa. O detalhe é que toca dois instrumentos enquanto canta. No ano passado gravou um CD de músicas populares com o primo Marinho e já está preparando outro CD para este ano.

Esses fatos comprovam que é possível ser feliz e gerar felicidade, basta amar a vida. Em sua simplicidade, Alduino costuma dizer que "somos nós que fazemos a vida linda". E o poeta Simões diz: "Através da arte o homem não apenas se ultrapassa, como diz Simone de Beauvoir, mas se transcende chegando a tangenciar a própria divindade". (João Manuel Simões. Cem pensamentos sem pretensões. Curitiba: Progressiva, 2004, p. 18)

Jorge Antonio de Queiroz e Silva é historiador, professor, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

queirozhistoria@terra.com.br

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