Sensualidade brejeira

 

Ainda hoje, Taís Araújo fica com os olhos cheios d?água ao lembrar do diretor Walter Avancini. Afinal, foi ele – a quem a atriz se refere como “segundo pai” – que lhe deu a grande chance de sua carreira: protagonizar Xica da Silva, exibida pela extinta Manchete em 1997. Então com 17 anos, Taís sequer sabia se seguia mesmo a carreira de atriz ou se prestava vestibular para Odontologia. “Quando ele morreu, fiquei muito mal. ?O único cara que acreditava em mim morreu… O que vai ser de mim agora??, cheguei a pensar”, emociona-se. Mas Avancini não foi o único.

O autor João Emmanuel Carneiro também acredita no poder de sedução da negritude de Taís. Tanto que a convidou para protagonizar Da Cor do Pecado, a próxima novela das sete da Globo. “Quando soube, caí no choro. Mas não chorei por mim. Chorei por todos aqueles que vêm batalhando por isso há anos…”, orgulha-se ela.

Em Da Cor do Pecado, Taís vai interpretar Preta, uma autêntica representante da sensualidade baiana que trabalha numa feira livre de Salvador. Certo dia, ela conhece e se apaixona por Otávio, o filho de um ricaço de férias na Bahia interpretado por Reynaldo Gianecchini. Mas o “affair” do casal vai ser ameaçado por Bárbara, a noiva ciumenta que Otávio deixou em São Paulo, interpretada por Giovanna Antonelli. A exemplo de Taís, Giovanna também pode ser considerada uma das “pupilas” de Avancini. As duas começaram juntas em Tocaia Grande, adaptação da Manchete para o romance de Jorge Amado. “Todo mundo está na maior expectativa. Eu estou fazendo a minha primeira protagonista na Globo, o Giane está interpretando um papel duplo e a Giovanna está encarando a primeira vilã da carreira”, enumera, empolgada.

Antes de aparecer em Da Cor do Pecado, prevista para estrear em janeiro de 2004, Taís pode ser vista em “Anjo Mau”, “remake” de Maria Adelaide Amaral, que reestréia 4 de agosto no Vale a Pena Ver de Novo. A novela marcou a estréia de Taís na Globo, depois de sua bem-sucedida estréia na Manchete. Na nova emissora, Taís só não voltou a trabalhar com Walter Avancini e Walcyr Carrasco, a mesma dupla de Xica da Silva, também em A Padroeira, de 2000, porque já estava reservada para o elenco de Porto dos Milagres. A atriz ressalta que não ficou qualquer mágoa entre ela e Avancini. Na época de “Xica”, já com 18 anos, a atriz se recusou a fazer algumas cenas, que incluíam sodomia, por considerá-las muito ousadas. “Assim que acabou a novela, o Avancini me chamou na sala dele para abrir uma garrafa de champanha. Devo minha carreira a ele”, enaltece.

Por ironia, a última aparição de Taís no vídeo não foi na Globo e sim na Rede TV!. Em 1999, quando morou por um ano nos Estados Unidos, ela gravou uma participação especial na novela Betty, A Feia, exibida recentemente na Rede TV!. “Nem cheguei a ver. Não tive coragem. Estava gorda, enorme…”, exagera. Taís morou nos Estados Unidos a convite da Telemundo, rede norte-americana voltada para o público hispânico, que exibia, na época, Xica da Silva. O país, aliás, foi apenas um dos muitos que ela conheceu por causa da novela da Manchete. Entre outros, ela visitou também Chile, Angola, Portugal e República Dominicana. “Não imaginava que a história da Xica pudesse interessar a outros países”, espanta-se.

Mas interessou. E como.

Na República Dominicana, por exemplo, a atriz foi recebida com honras de chefe de estado, com direito a limusine na porta e escolta militar. “Eu me senti num daqueles filmes de ação. Volta e meia, a gente pegava a contramão, com as sirenes ligadas. Morria de rir”, relata, soltando uma sonora gargalhada. Taís só não riu mesmo quando foi fazer compras num shopping de Santo Domingo, capital da República Dominicana, onde começam no final do mês os Jogos Pan-americanos, e uma multidão se formou na porta do estabelecimento. Sem alternativa, Taís fugiu pela porta dos fundos num dos carros da escolta. “Tive de sair correndo. Aquela multidão era de dar medo”, lembra, com os olhos arregalados.

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