Saudade imorredoura

?Dar e dar-se sem pensar em recompensa e sem visar merecimento? (Frei Anselmo, ?A Arte de Viver Feliz?)

Estava devendo esta homenagem.

Desde 1993 uma pungente e imorredoura saudade não me abandona.

O definitivo afastamento, em plena atividade profissional, privou-nos do convívio gratificante de querido amigo, esculápio e mestre dos mais distinguidos.

Em vida, Egas Penteado Izique foi dos mais diletos, pontificando como amigo sincero e médico com agudo olhar clínico.

Tinha-o e tenho-o, ainda, em meu coração, lembrando nostalgicamente nossos encontros, quando trocávamos carinhosas palavras, no envelo próprio daqueles que se estimam.

Profissionalmente a ele recorríamos, nos momentos de enfermidade e, pois, de dor, buscando o bálsamo que sua pessoa e seus conhecimentos científicos nos ofereciam.

Éramos, então, como somos ainda hoje, eternamente gratos, porque nele víamos pessoa afável, amiga, desprendida e, pois, sempre disponível.

Recentemente, ainda, em vista a sua querida esposa Lenita, recordávamos momentos de nossa vivência, com realce especial a cerimônia de meu consórcio com Maria Alice, quando, Lenita e Egas, nossos padrinhos, no abençoaram.

Recebi, então, como precioso regalo o livro Medicina, Magia e Arte, que a Universidade Federal do Paraná editou, contendo gravuras de técnicas cirúrgicas desenhadas pelo dr. Egas Izique, que, além de hábil cirurgião, era detentor de inegáveis dotes artísticos.

Historiando aspectos da vida do pranteado facultativo, o professor emérito Iseu Affonso da Costa, outro luminar da arte cirúrgica, que bem o conheceu, testemunhou: ?A personalidade de Egas Penteado Izique atraía de imediato. Era simples, autêntico, sem afetação. Nele logo se percebia a personalidade densa, repleta das marcas que uma vida intensa vai imprimindo insensivelmente aos gestos e as feições e que inspiram, confiança. Completava-lhe o encanto pessoal a sensibilidade artística direcionada ao desenho anatômico e cirúrgico. Deixou preparado e por editar, um atlas ilustrativo dos procedimentos operatórios mais freqüentes em sua área de atuação; testemunho de uma fase no cambiante panorama da arte cirúrgica?.

Dedicado à família, Egas Izique tinha em sua adorável esposa Lenita e nos filhos Egas, Paula e Flávia, certo que perdera, algum tempo antes, Gastão, o sustentáculo e a inspiração para a vida plena de realizações, com especial dedicação aos mais carentes e infelizes.

No amplo rol de amizades, em que despontava Paulo Pimentel, seu querido companheiro de Porecatu, nos primórdios da vida profissional, sentia-se agradavelmente rejuvenescido e impulsionado para o sucesso.

Incluindo-me neste meio, devotava-lhe o maior e mais profundo apreço, admiração e respeito.

?Dar e dar-se sem pensar em recompensa e sem visar merecimento?, como prega frei Anselmo, este parecia ser o seu lema, complementado pela assertiva do mesmo e santo sacerdote, de que, ?compartilhar o que temos e dar o que somos; não pensar em merecimento, não desejar elogios, nem esperar reconhecimento?.

Assim foi Egas Penteado Izique, amigo querido, que sempre relembro com pungente e imorredoura saudade, seguro de que descansa nos braços do Senhor!

Luís Renato Pedroso é desembargador jubilado, presidente do Centro de Letras do Paraná e vice-presidente do Movimento Pró-Paraná.

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