‘São Silvestre? inaugura sessões da Mostra no Masp

É o lugar perfeito. São Silvestre, de Lina Chamie, inaugura nesta segunda-feira, 21, as sessões do vão do Masp na Mostra. O filme é sobre a célebre corrida que se realiza na cidade todo 31 de dezembro. O ponto de partida é o Masp. O de chegada, o prédio da Gazeta, Ambos na Av. Paulista. Lina morava até pouco tempo atrás no prédio de apartamentos do lado da Gazeta. A corrida sempre fez parte de sua vida, mas ela a via a distância. “Em 2008, desci para ver a chegada, e como morava ali pude ficar numa área privilegiada. Fiquei duas horas vendo as pessoas chegarem. Muitos em estado de graça, outros, de desgraça, mas era tudo a mesma coisa. Dava para sentir a experiência que todos haviam vivido. Aquelas pessoas não seriam as mesmas. O desejo de fazer um filme nasceu ali, mas não foi fácil de concretizar.”

Lina, que tem outro filme na Mostra – Os Amigos -, perseverou, e fez bem. É uma autora exigente, com uma obra interessante. Com São Silvestre, ela se supera. O filme é sua obra-prima e, talvez, o melhor filme brasileiro de um ano que está sendo muito bom para o cinema do País. Lina concorda com a observação do repórter – seu método de captar a imagem talvez seja, ou é, documental. Mas a estrutura que ela imprime a São Silvestre, e a trilha, são ficcionais. Sabia que tinha de filmar o trajeto e a chegada. Os vencedores estão lá. Mas não é um registro da corrida. “Concordo. É outra coisa.” E que outra coisa é essa? Um óvni no cinema brasileiro. Um filme sobre São Paulo, que ela não se preocupa em embelezar. A cidade é como é. Mas dessas esquinas carcomidas emerge uma particular beleza, como Caetano diz em Sampa.

Lina fazia uma filmagem experimental no domingo anterior à prova. Era de manhã e muitos corredores faziam o trajeto para se familiarizar. Numa curva do Minhocão, teve a revelação. O sol se erguia no horizonte. A trilha de São Silvestre começou a se desenhar naquele momento. Vieram-lhe os acordes da Primeira de Mahler. “É a Aurora, o som do despertar.” E a trilha foi se desenhando assim. Parsifal, de Wagner, carrega a liturgia do divino. “Há algo de sagrado ali, como se fosse uma redenção.” Nada nos acordes de Vangelis para sublinhar a competição e a vitória em Carruagens de Fogo. O que ela busca é diálogo entre imagem e som. “O espectador não precisa saber de minhas escolhas, nem a da Valsa Triste de Sibelius. A música, independentemente de ser entendida em seu significado profundo, tem sonoridade que nos transcende. Não é preciso ter a informação para experimentar a sensibilidade.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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