Samba vive alta temporada nos palcos de São Paulo

O samba tem seus códigos. Músico que chega pela primeira vez nas rodas do Rio, por exemplo, tem que chegar manso, respeitoso, sem achar que o Beco do Rato ou a Pedra do Sal é um boteco da Vila Madalena. Cantor de samba por lá não faz firula, não olha para as pessoas e diz algo do tipo “vem junto, galera!” Samba não é axé nem na terra do axé. O fato de ter recebido o selo de patrimônio imaterial da humanidade em 2010 não significa que as batidas do Recôncavo Baiano pertençam a qualquer curioso. Vai tocar cavaco de partido alto para a velha guarda de São Braz para ver a cara dos velhinhos.

Samba é também um porto seguro, e este ano tem recebido uma migração volumosa de artistas, sambistas ou não, que decidiram chegar na roda trazendo seus próprios códigos. Maria Rita, sempre permeada pelo samba em algum nível, chegou com ‘Coração a Batucar’ no primeiro semestre. Um passo mais radical, mesmo evitando arranjos mais tradicionais. “Eu nunca vou ser Jovelina Pérola Negra, não é o caso”, disse ao jornal O Estado de S.Paulo na ocasião do lançamento. A paulistana Paula Lima redomesticou os acentos de soul music na voz, tirou um pouco dos vibratos e fez ‘O Samba é do Bem’, com um conceito mais pop. E Gilberto Gil lançou seu “disco de sambas” anunciado há quase dez anos. Um samba bossa, que com ele vira uma terceira coisa, retornando ao violão de João Gilberto do qual um dia foi criado para fazer ‘Gilbertos Samba’.

A vida pós Copa segue com mais artistas ancorando a voz nos cavacos. Leila Pinheiro estará nesta sexta-feira, 01, no novo teatro Net (Shopping Vila Olímpia, 5º andar – Rua Olimpíadas, 360), inaugurado por Gil, para fazer o show Eu Canto Samba. É o novo projeto de Leila, do qual sairá um CD e um DVD, feito com o repertório que parte de Ari Barroso e chega a Zeca Pagodinho, acenando para Dorival Caymmi, Almir Guineto, Luiz Carlos da Vila, Paulinho da Viola, Jorge Aragão e Dona Ivone Lara. “Tenho feito muitos shows ao piano, em duo de piano e violão de 7 cordas e senti vontade de sair detrás do instrumento e me envolver com a energia contagiante do samba, que canto há anos, gravo há anos, mas a ele nunca dediquei um show ou CD inteiro. Devo gravar CD e DVD deste show ainda este ano”, diz Leila. Nara Leão, a mulher que subiu o morro para puxar o samba ao asfalto, vai ganhar homenagens, com ‘Meu Cantar’, ‘Diz que Fui por Aí’ e ‘O Sol Nascerá’. Entram ainda ‘Rosa Morena’, ‘Doralice’ e ‘Izaura’, de João Gilberto. E, das escolas de samba, ‘Exaltação à Mangueira’, ‘Sei lá’ e ‘Mangueira’. “Foi difícil fechar um repertório fugindo do óbvio e trazendo ao mesmo tempo o samba conhecido e o pouco cantado”, conta Leila.

Na próxima terça, 05, a casa de Pinheiros Traço de União (Rua Cláudio Soares, 73, Tel: 3031-8065) fará a tradicional roda carioca Samba do Trabalhador, comandada por Moacir Luz. No Rio, ela acontece em Santa Isabel, às segundas, cobrando R$ 15 de entrada e recebendo uma comunidade vibrante. Aqui, serão R$ 30 de entrada. “Moacyr é um querido amigo, já gravei música dele com Aldir e dei uma canja no Samba do Trabalhador no Rio, um oásis de grandes músicos e a casa do samba às segundas-feiras. Os cariocas fazem samba e ele se espalha cada vez mais pelo Brasil, mas fiquei gratamente surpreendida com a calorosa recepção que tive dos paulistanos, quando, no ano passado trouxe meu show para o Tom Jazz. Foi espetacular!”, diz a cantora.

Quem já é do samba também faz suas rodas. Zeca Pagodinho vem a São Paulo, dia 21 de agosto, no Espaço das Américas (os ingressos se esgotam rapidamente), para mostrar o repertório de seu ‘Sambabook’, lançado em abril. Seu show terá participações de Arlindo Cruz, Péricles, Diogo Nogueira, Mariene de Castro, Mumuzinho e os integrantes da big band Furiosa do Auditório Ibirapuera. O samba em seu estágio mais pop.

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