Romance de Lygia Fagundes Telles vira peça em SP

Foi uma reação em cadeia. Impressionada com o vigor e a atualidade do romance “As Meninas”, de Lygia Fagundes Telles, a atriz Clarissa Rockenbach decidiu adaptar o texto para o teatro. Era 2007 e sua motivação contagiou o produtor Fernando Padilha, que conseguiu os direitos com a escritora. O passo seguinte foi trazer Maria Adelaide Amaral para o grupo, encarregada da versão teatral. Foi um trabalho tão delicado que encantou a diretora Yara de Novaes e o ator Dan Stulbach que, na qualidade de diretor do Teatro Eva Herz, encampou o projeto para a sua programação. Assim, o resultado de tantas adesões, “As Meninas” no palco, poderá ser visto a partir de sábado, quando acontecem as estreias para convidados (17 h) e também para público (21 h).

“Tudo isso aconteceu porque o texto de Lygia Fagundes Telles agarra o público pela emoção”, conta Maria Adelaide, que diz ter feito um trabalho de edição do livro. “Cada romance ou conto seu contém uma peça de teatro. Acrescente-se a isso a imensa compaixão pelo gênero humano.”

Escrito em 1971 e publicado dois anos depois, ou seja, durante a fase mais aguda do regime militar, “As Meninas” acompanha a trajetória de três universitárias, que se revezam como narradoras da obra durante uma greve estudantil: Lorena (interpretada por Clarissa Rockenbach), fruto de uma educação esmerada, vive remoendo o passado; Lia (Silvia Lourenço), conhecida como Lião, ativista de esquerda dedicada à ação política clandestina; e Ana Clara (Luciana Brites), estudante de psicologia com sérios problemas existenciais. Aparentemente pouco movimentado, o romance concentra-se no retrato interior das três protagonistas e, por extensão, da moderna sociedade brasileira e todos os seus conflitos.

“Fiz pequenas intervenções, como concentrar apenas na personagem Irmã Priscila (Tuna Dwek) todas as freiras do pensionato onde vivem as três meninas”, conta Maria Adelaide. “De resto, eu preservei o impressionante painel daquela época retratado por Lygia, em que as freiras representam a faixa conservadora da sociedade, impressionadas com a mudança de costumes, mais modernos, que se observa no comportamento das três amigas.”

Único homem em cena, Julio Machado vive Max (frágil amante de Ana Clara) e Guga (colega de faculdade de Lorena). “Na verdade, apesar do movimento de emancipação vivido especialmente naquela época, as mulheres sempre buscam um ponto de apoio nos homens. Não como submissas, mas cúmplices.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

As Meninas. 80 min. 14 anos. Teatro Eva Herz. Livraria Cultura (166 lug.). Avenida Paulista, 2.073, Conjunto Nacional. Tel. (011) 3170-4059. Sáb., 21 h; dom., 18 h. Até 13/12.