Pura malandragem

Malvino Salvador recuperou as mais remotas lembranças da infância assim que foi chamado para fazer o boxeador Régis, de Sete pecados. Quando foi questionado, aos cinco anos de idade, sobre o que iria ser quando crescer, o manauara nem pestanejou: ?Vou ser boxeador?, lembra, com um sorriso solto. Agora, 26 anos depois, Malvino não só interpreta um pugilista, como também estréia em novelas contemporâneas. Depois de atuar em três consecutivas tramas de época Cabocla, Alma gêmea e O profeta, o ator chega a se entusiasmar como uma criança quando traça o perfil de seu lutador hedonista, um malandro boa-praça. ?O Régis é a ovelha negra da família. É meio machista e não tem romantismos, mas é gente boa?, defende, apertando os olhos.

Na trama de Walcyr Carrasco, Malvino interpreta o irmão do irrepreensível Dante, de Reynaldo Gianecchini, além de namorar há cinco anos a deslumbrada Elvira, vivida por Nívea Stelmann. Após tantos anos de namoro e a promessa de casamento, a noiva vive questionando Régis sobre a data do casório. Mas o pugilista sempre escapou das investidas de Elvira como quem se esgueira de um cruzado. ?As saídas dele são muito engraçadas e ela cai em todas. Mas quando ele se toca de que pode perder a noiva, volta rastejando: ?Vem cá meu amor! Vem aqui…??, diverte-se, evidenciando o tom machista do personagem.

Por ser honesto, mas com atitudes de um típico malandro, Malvino acredita que o único ?pecado? de Régis realmente é a luxúria, motivo pelo qual retarda vestir um fraque e subir no altar. Isso sem falar que o personagem vive na maior pindaíba como boxeador. ?Ele ainda quer sair sozinho na noite, dar uma paquerada e exercitar o jogo da sedução?, protege o ator.

Malvino teve de lutar para chegar no tipo físico ideal para o personagem. O ator, que já havia praticado judô e jiu-jítsu, foi fazer aulas de boxe para aprender os golpes do esporte. No entanto, Malvino garante que só ?encontrou? mesmo o personagem quando teve de cortar os cabelos bem curtos e se despir dos figurinos de época. ?Tenho uma vantagem para um ator: uma cara comum. Basta colocar um bigode ou deixar o cabelo crescer que ninguém sabe quem eu sou. Tanto que na festa de estréia da novela ninguém me reconheceu?, comemora.

Esse lado camaleônico foi bastante explorado no início de sua carreira, assim que Malvino se mudou de Manaus para São Paulo para trabalhar como modelo. Com o cachê que arrecadava nos trabalhos de moda, o aprendiz de ator freqüentava aulas de teatro. Foi assim que cursou a Escola de Atores Wolf Maya, na capital paulista. ?Foi bom porque não entrei cru na tevê para fazer Cabocla. Já sabia me posicionar para a câmera, como olhar. Meu processo de composição vem muito da intuição, de como o personagem anda ou se comunica?, explica o ator, que recentemente foi assediado pela Record, mas preferiu permanecer na Globo, onde tem contrato até 2010. ?Eles oferecem uma grana boa, mas estou bem na Globo?, desconversa.

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