Público familiariza a personagem de Guta Stresser

Muito antes de fazer televisão, Guta Stresser já ouvia falar que o veículo opera algumas transformações na vida das pessoas. Um exemplo: quem vê televisão corre o risco de se considerar íntimo, quase um amigo de infância, de quem aparece nela. Com 16 peças no currículo, Guta só veio entender o que isso significa quando começou a interpretar a Bebel de “A Grande Família”.

Desde então, ela não consegue mais sair às ruas sem ouvir gracejos do tipo: “Como é que você agüenta um marido daqueles?” ou “Se fosse comigo, já teria dado um jeito no Agostinho!”. Tais gracinhas vêm sempre acompanhadas de tapinhas nas costas e piscadelas marotas. “O pessoal na rua fica íntimo da gente. Ainda mais porque o seriado se chama ?A Grande Família?. Aí é que a turma se sente de casa mesmo…”, brinca. A mais recente leva de piadinhas tem vindo de motoristas de táxi. E não é por acaso. Há pouco, Agostinho trocou o emprego de gerente de motel pelo de chofer de praça. Por conta disso, os taxistas cismam em ensinar algumas gírias para Guta repassar para Pedro Cardoso. “Ah, fala para ele que ?deu guabiru? é quando um motorista rouba o passageiro do outro…”, reproduz, bem-humorada. De fato, Guta não fala do indiscutível alcance da televisão em tom de crítica ou queixume. Mas admite que passou a se policiar mais quando sai de casa. Mesmo que seja apenas para comprar leite na padaria da esquina. “Se eu não pentear meu cabelo, alguém logo já diz: ?Puxa, ela é mais bonitinha na televisão…?”, arremeda.

De Curitiba para Hollywood

Mas nada disso tira o ânimo dessa curitibana de 28 anos. De mochila nas costas, Maria Augusta Stresser deixou a casa dos pais há sete anos justamente para tentar a sorte na cidade que é considerada a Hollywood brasileira. Um mês depois, ela retornava a Curitiba. Mas não para desistir do sonho de ser atriz. Ela voltou apenas para vender o carro, a tevê e um aparelho de som. Com o dinheiro, mudou-se de vez para o Rio, onde passou a dividir um apartamento com uma amiga. “Sei que não sou do tipo físico que vira capa de revista. Por isso mesmo, nunca corri atrás da tevê. Não queria dar minha cara a tapa”, confessa.

Na verdade, foi a tevê que correu atrás de Guta Stresser. O diretor Guel Arraes foi assistir ao espetáculo “Mais Perto”, de Hector Babenco, e gostou muito da atuação da atriz “mignon” que interpretava a “stripper” Alice. No primeiro dia de gravação, Guta sentiu todas as dificuldades que uma novata na tevê pode sentir: marcação de texto, posicionamento de câmaras e assim por diante. Mas Guta logo estabeleceu um método para lá de engenhoso para esclarecer qualquer dúvida em cena. Quando não sabe o que fazer, ela simplesmente pára e olha para o lado. “Como é que eles fazem? Ah, então é assim que eu vou fazer também…”, garante.

Um ano depois, Guta se sente mais do que à vontade fazendo televisão. Tão à vontade que já perdeu o medo de fazer novelas. “Televisão é que nem um bichinho que vai contagiando você aos poucos”, compara. Logo no começo, porém, ela não entendia como alguém em sã consciência consegue gravar 20 cenas por dia, seis dias por semana. “Mas, como é que esse pessoal agüenta? E o banco? Quem vai pagar minhas contas?”, indaga. Mas isso não significa que ela esteja aflita para fazer novela. Ela anda muito satisfeita com a Bebel de “A Grande Família”. Ainda mais agora que a personagem ficou “menos cachorra e mais tchuchuca”. “Eu achava os figurinos muito ousados para uma menina que mora com os pais. A Bebel não perdeu a sensualidade. Ficou apenas mais romântica”, avisa.

Romantismo, aliás, é o que não falta a Guta Stresser. Atualmente sem namorado, ela divide um apartamento no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, com um gato siamês. Por essas e outras, não se considera assim tão diferente da personagem que interpreta em “A Grande Família”. “Tenho um lado meio Bebel. Sou do tipo que sonha em encontrar um príncipe encantado. Mas, graças a Deus, não tenho nenhum Agostinho na minha vida”, ressalva.

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