Prêmio Tim reúne a atual e antiga música brasileira



Não foi uma noite perfeita. Parece ser a pluralidade da música brasileira. Mas é a esbórnia da música nacional. A organização do Prêmio Tim de MPB, realizado anteontem no Teatro Municipal do Rio de Janeiro esteve bem, exceto, talvez, pelo operador do microfone, que deixou a cantora Ana Carolina (primeira a se apresentar) e seus músicos sem voz e os apresentadores, Evandro Mesquita e Taís Araújo, mudos a cada cinco minutos. 

 

Esses prêmios de música patrocinados por empresas multinacionais servem muito bem para o marketing agressivo das mesmas. É uma forma de atrair os cantores e músicos – que vivem encarcerados pelas grandes gravadoras – e, com isso atrair a mídia e obter espaço nos jornais, rádios, televisão e revistas. O retorno é enorme em relação ao investimento, no caso do Prêmio Tim, cerca de 3 milhões de reais. Por outro lado, o público conta com mais um evento musical.

 

O problema dessa chamada multiplicidade da música nacional é que cria um clima confuso desde o princípio, colocando pessoas em situações constrangedoras e combinando alhos com bugalhos ou rap com mármore carrara. Não se trata de um ponto de vista reacionário, mas do bom senso em realizar os devidos casamentos para que se possa obter melhores resultados e oferecer maior prazer as pessoas – que é o objetivo principal da música em nossas vidas. Explico.

 

O Teatro Municipal do Rio continua com a mesma majestade, com todos os seus afescos, bancos de couro e veludo, mármores italianos e afrescos, enfim, um santuário. O povo pouco o respeitou. Os músicos desafinaram e erraram a mão. O público para espanto de antigos .porteiros, fumava e jogava a ponta do cigarro no chão. Ao carioca, tudo se permite e, se o traje era passeio fino, lá pelas bandos do Rio significa “vai do jeito que você achar melhor”. Pluralidade, bah.

 

Sentado ao lado do meu amigo, o grande Zuza Homem de Melo, músico e crítico (ele trouxe centenas de shows internacionais para o Brasil, além de ter sido o organizador dos festivais da Record), ambos jogamos no time da música de qualidade e ficamos assustados com as apresentações de Ana Carolina, Adriana Calcanhoto e de um roqueiro carioca. O show final do Lulu Santos, o homenageado da noite, foi um desastre. Não devem ter ensaiado, tampouco passado o som. Uma pena. A maioria dos espectadores saiu bem antes do final. Ninguém mais agüentava o amadorismo de certos grupos que intercalavam a premiação com seus improvisos, caso de um rapper, Thaíde, que se apresentou também como repentista. Tentou. Nem sob o tema “mulher bonita”, sugerido pelo Reinaldo Gianecchini, conseguiu criar uma música ou uma poesia.

 

A dupla de apresentadores pode ser simpática e ao gosto dos cariocas,. Entretanto, mostrou-se despreparada e, pior, tentando mostrar improviso,. Remendavam o soneto e mandavam barbaridades para a platéia. 
Num momento, Taís Araújo disse que precisava entrevistar alguém que recebera o prêmio há minutos. “Mas agora já foi, segue a festa”, respondeu o Evandro. Contrata um jornalista, eu diria. 

 

O mais engraçado é que a maioria dos prêmios foi para veteranos cantores e músicos, ainda dos anos 60. Sérgio Reis, Cauby Peixoto, Noite Ilustrada, Maria Betânia, Elba Ramalho, Banda de Pífanos de Caruaru, Jaques Morelembaum, Wagner Tiso, Wanderléa. A música brasileira perdeu o trem da história ou da criação, e parou na estação 1960? O Zuza me respondeu que sim, pois ficou muito decepcionado com as novidades, como o Marcelo D2 que foi aplaudido antes, durante e depois do evento. 

 

Vale a pena um prêmio de música brasileira desse porte? Sim, mas os organizadores deveriam reavaliar a estética do programa inteiro. Primeiro, por que não segmentar? A Tim poderia ficar com mpb, música erudita e semelhantes. O Multi-show ficaria com a música mais de vanguarda, raps, axé, funks, novidades e afins. 
Teríamos menos indicados, menos premiados, menos confusões, mais fácil de produzir, mais simpático, e a tal da pluralidade musical brasileira permaneceria preservada e fora de debates. E cada um ouviria o que desejasse.
A mídia manteria a mesma, talvez melhor, atenção à cobertura. 

 

Em tempo. As apresentações de Lenine e Marcos Vale foram excelentes. E a homenagem ao Lulu Santos, durante toda a premiação, foi pontuada por pequenos vídeos mostrando diferentes tribos cantando a música dele. Foi simpático e salvou a festa.

 


Vencedores 2º Prêmio TIM de Música

 

CATEGORIA ARRANJADOR

 

            ARRANJADOR

·        João Donato por “Emílio Santiago Encontra João Donato” ? Emílio Santiago e João Donato (Lumiar Discos)

 

CATEGORIA CANÇÃO

 

            MELHOR CANÇÃO

·        À Procura da Batida Perfeita, de Marcelo D2 e Davi Corcos, intérprete Marcelo D2 (Sony Music)

 

CATEGORIA PROJETO VISUAL

 

            ARTISTA

·        Maria Bethânia, disco “Brasileirinho”, projeto Gringo Cardia (Quitanda)

 

CATEGORIA REVELAÇÃO

 

            ARTISTA

·        Maria Rita (Warner Music)

 

CATEGORIA CANÇÃO POPULAR

 

            MELHOR DISCO

·        “Noite Ilustrada Canta Lupicínio Rodrigues”, de Noite Ilustrada, produtor Carlos Alberto Borba (Atração Fonográfica)

 

MELHOR DUPLA

·        Cauby Peixoto & Selma Reis (Albatroz)

 

MELHOR GRUPO

·        Fat Family (Sum Records)

 

MELHOR CANTOR

·        Cauby Peixoto (Cid. Entertainment)

 

MELHOR CANTORA

·        Wanderléa (BMG)

 

CATEGORIA INSTRUMENTAL

 

            MELHOR DISCO

·        “Cenas Brasileiras”, de Wagner Tiso com Orquestra Sinfônica Pró Musica, produtora Giselle Goldoni Tiso (Biscoito Fino)

 

MELHOR SOLISTA

·        Yamandú (Independente)

 

MELHOR GRUPO

·        Pagode Jazz Sardinha´s Club (Independente)

 

CATEGORIA MPB

 

            MELHOR DISCO

·        “Brasileirinho”, de Maria Bethânia, produtora Maria Bethânia (Quitanda)

 

MELHOR GRUPO

·        Morelembaum2/ Sakamoto (Universal)

 

MELHOR CANTOR

·        Emílio Santiago (Lumiar Discos)

 

MELHOR CANTORA

·        Maria Bethânia (Quitanda)

 

CATEGORIA POP/ROCK

 

            MELHOR DISCO

·        “À Procura da Batida Perfeita”, de Marcelo D2, produtores Mario Caldato, Marcelo D2 e Davi Cocos (Sony Music)

 

MELHOR GRUPO

·        Titãs (BMG)

 

MELHOR CANTOR

·        Lulu Santos (BMG)

 

MELHOR CANTORA

·        Elza Soares (Reco-Head)

 

CATEGORIA REGIONAL

 

            MELHOR DISCO

·        “Vozes da Purificação”, de Dona Edith do Prato, produtor J. Velloso (Quitanda)

 

MELHOR DUPLA

·        Caju & Castanha (Trama)

 

MELHOR GRUPO

·        Banda de Pífanos de Caruaru (Trama)

 

MELHOR CANTOR

·        Sérgio Reis (Atração Fonográfica)

 

MELHOR CANTORA

·        Elba Ramalho (BMG)

 

CATEGORIA SAMBA

 

            MELHOR DISCO

·         “Uma História do Samba”, de Monarco, produtor Katsunori Tanaka e Henrique Cazes (Rob Digital)

 

MELHOR GRUPO

·        Fundo de Quintal (BMG)

 

MELHOR CANTOR

·        Zeca Pagodinho (Universal)

 

MELHOR CANTORA

·        Alcione (Indie Records)

 

CATEGORIA ESPECIAL

 

            MELHOR DISCO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

·         “Roorback”, de Sepultura, produtor Steve Evetts (FNM)

 

MELHOR DISCO ERUDITO

·        “Nelson Freire Schumann”, de Nelson Freire, produtor Dominic Fyfe (Universal

 

MELHOR DISCO INFANTIL

·        “Samba para Crianças”, de Vários, produtor Zé Renato (Biscoitinho)

 

MELHOR DISCO PROJETO ESPECIAL

·         “Song Book ? João Bosco”, de Vários, produtor Almir Chediak (Lumiar Discos)

 

MELHOR DISCO ELETRÔNICO

·        “Tranqüilo!”, Marcelinho da Lua, produtores Marcelinho da Lua e Rafael Ramos (Deck Disc)

 

 CATEGORIA VOTO POPULAR

               CANTOR

·        Marcelo D2

 

CANTORA

·        Maria Rita

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