Pinacoteca recebe mostra da fotógrafa Graciela Iturbide

Um dos dons da fotógrafa mexicana Graciela Iturbide é, como diz a curadora Marta Dahó, mesclar realidade e representação em imagens em preto e branco de maneira suave e potente, intensa. O México de Graciela é certo que tem uma importância fundamental em seu trabalho – a força da cultura pré-colombiana aparece naturalmente em seus retratos, assim como a figura da morte, da festa dos mortos, tão popular em seu país, volta e outra está a rondar suas composições – mas a fotógrafa também explora outras localidades, como, principalmente, os Estados Unidos e a Índia. É uma linguagem particular a de Graciela Iturbide, como se pode ver em sua mostra retrospectiva, a ser inaugurada amanhã na Pinacoteca do Estado.

Quase 90 imagens, realizadas pela fotógrafa entre 1969 e 2008, estão reunidas na exposição, já apresentada na Fundação Mapfre em Madri (realizadora da mostra), e na Suíça – e que depois seguirá para o México. A retrospectiva chega reduzida à metade de sua formação original a São Paulo, mas sem deixar de expor ao público brasileiro imagens de séries consideradas ícones da trajetória de Graciela Iturbide, nascida em 1942. Como a dos índios seris do deserto de Sonora (na fronteira do México com os EUA), de 1979; ou Juchitán de las Mujeres – a mais famosa da fotógrafa -, sobre a cultura zapoteca (do Sul de seu país), com imagens realizadas entre 1978 e 1986.

Entretanto, como frisa Marta Dahó, uma das questões fundamentais da retrospectiva é jogar luz à produção recente (e até, alguma parte inédita) da consagrada Graciela, desbravada nos últimos 15 anos. “É uma fotógrafa que está na ativa, mas que em geral é conhecida por seus trabalhos sobre o México indígena”, diz. Para Marta, Graciela, que vem ao Brasil para a abertura da mostra, “não é uma antropóloga”, nem uma documentarista – é fotógrafa poética, com a capacidade de colocar em imagens muitas “camadas”. “Às vezes, suas fotos são surrealistas, de uma vontade inconsciente, visceral”, define.

Graciela frequentava um curso de cinema na Cidade do México quando conheceu o fotógrafo Manuel Álvarez Bravo, professor na faculdade. No fim da década de 1960 começou a fotografar – tornou-se assistente de Bravo, seu “mestre de vida”. Primeiro, em sua carreira – que teve como marco infeliz a morte, em 1970, de sua filha de 6 anos – ela se dedicou aos retratos, já feitos a partir de “uma linguagem muito madura”, define Marta. Mas, com o tempo, Graciela começou a se interessar mais por paisagens e objetos, motivando um caráter intimista e revelador da “presença pela ausência” em sua obra. Nesse sentido, é exemplar a série O Banheiro de Frida, de 2006 – na qual nos apresenta um olhar criativo ao retratar os vestígios do banheiro da casa da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954), trancado desde sua morte por pedido de seu marido, Diego Rivera. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Graciela Iturbide – Pinacoteca (Praça da Luz, 2). Tel. (011) 3324-1000. 10 h/ 18 h (fecha 2ª). R$ 6 (sáb., grátis). Até 30/1.

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