Percussionista completa 50 anos de carreira

Naná Vasconcelos acaba de chegar da Alemanha e Turquia. Continua os ensaios e a criação para o Balé de Rua, de Uberlândia, que estréia espetáculo em Paris e depois excursiona pelo mundo. Completa 50 anos de carreira, tem duas indicações para o Prêmio Tim e teve o documentário Diário de Naná selecionado para o Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, considerado o mais importante do mundo no gênero.

Naná completa 50 anos de carreira agora em 2006. Apesar disso, lamenta que a maior parte da sua obra tenha sido lançada fora do País. ?Se eu ficasse no Brasil, dificilmente conseguiria construir uma carreira solo como percussionista?, lembra. Mas a sua carreira é sempre impulsionada por ventos fortes. Além do reconhecimento internacional, Naná vem sendo aclamado pela crítica brasileira. Durante este mês o percussionista concorreu a duas premiações importantes do cenário cultural do Brasil. Foi indicado ao Prêmio Tim em duas categorias, melhor disco instrumental e melhor arranjador, com seu último trabalho, o CD Chegada, lançado pela Azul Music, e, em Salvador, Naná foi um dos dez indicados ao Prêmio Jorge Amado de Literatura e Arte, edição 2006, que este ano foi dedicado à música popular brasileira. O resultado foi anunciado no último dia 11 de julho contemplando Dorival Caymmi.

Naná também foi eleito sete vezes como melhor percussionista do mundo, segundo a revista norte-americana Down Beat. Somado a tudo isso, o percussionista trabalha com a reconhecida Cia. de Dança Balé de Rua, de Uberlândia, compondo a trilha sonora e ensaiando o espetáculo Balé de Rua Dança e Percussão do Brasil, para ser apresentado nos próximos dias 7 e 8 de novembro, no Teatro Mogador, em Paris, um dos mais importantes da capital francesa. Baseado na própria história da companhia mineira, ou seja, um grupo de dança de rua da periferia de uma cidade do interior do Brasil, que rapidamente conquistou o público nacional e agora projeta-se internacionalmente, Naná Vasconcelos foi escolhido para criar a trilha sonora e orientar os músicos. Segundo o diretor-geral da companhia, o percussionista supera todas as expectativas. ?O Naná é mais que um músico, ele é um mágico. A colaboração dele vai além do plano musical. Ele trouxe equilíbrio e confiança para todo o grupo?, diz Narduchi.

Trajetória

Juvenal de Holanda Vasconcelos nasceu em Recife, Pernambuco e, mesmo após duas décadas tocando pelo mundo, as influências de sua terra estão presentes em tudo que faz. Dotado de uma curiosidade intensa, indo da música erudita do brasileiro Villa-Lobos ao roqueiro Jimi Hendrix, Naná aprendeu a tocar praticamente todos os instrumentos de percussão, embora nos anos 60s tenha se especializado no berimbau.

Depois das mais variadas experiências musicais, Naná Vasconcelos mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a trabalhar com Milton Nascimento. Em 1970 o saxofonista argentino Gato Barbieri convidou-o para juntar-se ao seu grupo. Apresentaram-se em Nova York e Europa, com destaque para o Festival de Montreaux, na Suíça, onde o percussionista encantou público e crítica.

Ao término da turnê, fixou residência em Paris, França, durante cinco anos, onde gravou o seu primeiro álbum, Africadeus (1971). No Brasil, Naná gravou o seu segundo disco Amazonas (1972). Começou então uma bem sucedida parceria com o pianista e compositor Egberto Gismonti, durante oito anos, que resultou em três álbuns, Dança das cabeças, sol do meio dia e Duas vozes.

De volta a Nova York formou o grupo Codona, com Don Cherri e Colin Walcott, também gravando e fazendo turnê com a banda do guitarrista Pat Metheny. Trabalhando com artistas das mais variadas tendências, Naná Vasconcelos gravou com B.B. King, com o violinista francês Jean-Luc Ponty e com o grupo de rock americano Talking Heads, liderado por David Byrne. Em 1986, de volta ao Brasil depois de dez anos, fez turnê recebida com entusiasmo pelo público. Nessa altura, Naná já havia trabalhado nas trilhas dos filmes Procura-se Susan desesperadamente, de Susan Seidelman, estrelado por Rosanna Arquette e Madonna, e Down By Law, do cultuado diretor Jim Jarmusch, além de Amazonas, de Mika Kaurismaki.

Nos anos 80s ele gravou o seu disco Saudades, concerto de berimbau e orquestra. Depois, vieram os discos Bush Dance e Rain Dance, suas experiências com instrumentos eletrônicos. Daí por diante Naná esteve envolvido mais diretamente com o cenário musical brasileiro ao fazer a direção artística do festival Panorama Percussivo Mundial (Percpan), em Salvador, e do projeto ABC Musical, além de participações especiais em álbuns de Milton Nascimento, Caetano Veloso, Marisa Monte e Mundo Livre S/A, entre outros.

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